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Truss não lê o FT. Mas devia

CELSO FILIPE Diretor adjunto cfilipe@negocios.pt

Aprimeira-ministra inglesa, Liz Truss, estreou-se no cargo cometendo um erro estruturalmente grave por partir de uma premissa errada. Truss julga que as bulas políticas são imutáveis e quis aplicar no Reino Unido uma receita decalcada daquela que Margaret Thatcher usou no início da década para relançar a economia do país.

Ora, nem Truss é Thatcher, nem os tempos são comparáveis. A fé absoluta nos mercados, a desregulação e uma arquitetura empresarial exclusivamente vocacionada para a obtenção de lucros e a remuneração dos acionistas perderam a sua natureza dogmática.

Em 2019, o Financial Times (FT) afirmou-se como grande promotor da iniciativa “capitalism, time for a reset”, ou seja, apelando a uma redefinição do capitalismo, configurando-o a uma nova realidade. O slogan foi o ponto de partida para o FT “incentivar os líderes empresariais a desafiar as mudanças económicas e sociais da última década, como a ética do investimento, os riscos da grande tecnologia e o futuro do mundo corporativo”.

O repto foi levado muito a sério por empresários, economistas, gestores e investidores e só não avançou com maior rapidez devido à pandemia de covid-19 e, agora, à guerra na

Ucrânia, acontecimentos que por razões diferentes colocaram o mundo do avesso.

Todavia, a validade do conceito mantém-se inalterável e essa terá sido uma das razões pelas quais os mercados reagiram mal às propostas de Liz Truss, embora uma parte substantiva destas os beneficiasse, pelo menos numa perspetiva de curto prazo.

O capitalismo existente na era Thatcher é bem diferente do atual, sobretudo porque os seus protagonistas estão mais atentos a variáveis de natureza social, ética e ambiental. Bastava a Liz Truss e ao seu ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, lerem o FT. Após a contestação, Truss admitiu que devia ter “preparado melhor o terreno” antes de anunciar os cortes maciços de impostos que provocaram o caos nos mercados Neste momento, por culpa da primeira-ministra, o Reino Unido é uma ilha à deriva que acha ser capaz de resolver sozinha problemas que são globais.

Por culpa de Liz Truss, o Reino Unido é uma ilha à deriva.

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2022-10-07T07:00:00.0000000Z

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http://quiosque.medialivre.pt/article/281547999785176

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