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JOAQUIM AGUIAR

Não foi resolvido o principal gerador de desequilíbrios

PAULO CARMONA

Berardo foi apenas mais um protagonista duma época negra da economia e da sociedade portuguesa, que não deve ser esquecida ou apagada, para que as lições aprendidas fiquem connosco e sejam evitadas repetições. A união de interesses entre o Estado e “capitalistas” dependentes e sem capital, baseado em dívida bancária, com a cumplicidade dos maiores bancos, levou à maior destruição de riqueza que há memória em Portugal. Um banco octópode com ligações ao Governo uniu-se ao banco público com gestores socialistas para alinharem outro grande utilizando peões como Berardo, Ongoing, etc., a quem se prometia financiamento à compra de ações para essa conquista. Vimos os três bancos, a PT e o Governo de mãos dadas para construir e dominar um país. O resultado ficou à vista, aumentos de capital sucessivos, maiores que o valor atual dos bancos, e uma resolução bancária a não repetir, com uma venda a um fundo daqueles que raramente criam empregos, peritos em esgotar os potenciais cheques colocados à disposição.

Claro que hoje tal seria quase impossível, dadas as trancas à porta a reboque do prejuízo. O BCE assumiu uma regulação mais apertada, e Portugal tem perdas reputacionais ainda a recuperar. Os maiores bancos são hoje bem geridos e com interferência mínima do Governo, muito respeitoso com Bruxelas e Frankfurt em quase tudo. Os depósitos estão altos e as comissões e a subida de juros farão o seu caminho de robustecimento dos balanços. Infelizmente, ou talvez não, as regras apertadas e algum excesso prudencial, têm-nos focado mais na proteção dos depósitos do que na assunção de riscos. Sem mercado de capitais e sem literacia financeira nem tradição de risco, a vida é difícil para quem se deseje financiar além da hipoteca da casa.

As trancas essas estão sempre que a casa é assaltada. Por exemplo, depois dos excessos dos anos 90, a câmaras bloqueiam projetos, têm medo e agem cautelosamente, com bastantes incentivos para a inércia.

Infelizmente a dependência de muitos empresários face ao Estado continua perigosamente alta, principalmente entre os que não exportam. Medo de afrontar quem tem fundos para distribuir “ocupando” 47% do PIB, com pena leve na produção fiscal e legislativa penalizante ou favorável. Mendicantes nacionais dum mendicante europeu. E sempre sem capital…

“Mas isto só sucede porque no passado os bancos se colocaram a jeito e tiveram um comportamento de total promiscuidade com Berardo.” MARQUES MENDES NEGÓCIOS 16 DE MAIO DE 2022

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2022-05-17T07:00:00.0000000Z

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