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FILIPE SANTOS

Ideias-chave para o futuro da economia de impacto

FILIPE SANTOS Dean da Católica Lisbon School of Business & Economics

Na semana passada (intensa!) participei em seis conferências ou eventos diferentes, falando sobre as perspetivas para a economia num contexto de múltiplas crises e crescente aposta na sustentabilidade. Neste artigo optei por compilar várias ideias marcantes que ouvi ou partilhei nesses eventos, sobre os desafios económicos da atualidade e o desenvolvimento de uma economia orientada para o impacto. Deixo também aos meus leitores a noção do que é a semana típica de um dean de uma business school internacional e professor de Inovação Social.

2ª-feira, dia 9 de maio, celebrámos o Dia da Europa. A Católica-lisbon comemorou esse dia organizando uma grande Conferência de Economia, em parceria com o Negócios, tendo como convidado de honra Klaus Regling, presidente do Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM). Perante um auditório cheio com 200 participantes, mais algumas centenas a assistirem online, ouvimos oradores de eleição, incluindo Vítor Gaspar, Cristina Casalinho e Joana Silva, professora de Economia e fundadora do PROSPER – Center of Economics for Prosperity da Católica-Lisbon, debatendo a resiliência e recuperação da economia europeia. No encerramento da conferência, falei sobre os espectros que assombram a economia atual, numa combinação raramente vista de fatores de incerteza. Esta incerteza irá exigir uma delicada e difícil gestão por parte das autoridades monetárias e financeiras, e grande coragem e visão por parte dos gestores. Sobre Portugal, afirmei que o nome do PRR – Plano de Recuperação e Resiliência pode camuflar o facto de a nossa economia precisar não de recuperação mas de transformação para prosperar face aos desafios. Temos as condições políticas de estabilidade e os recursos para fazer as mudanças necessárias. Haja nas forças políticas e vivas da nossa sociedade a sabedoria para responder aos desafios de longo prazo, em vez de ficarmos obcecados com as crises do momento. E que as políticas económicas sejam desenhadas com base na evidência e no objetivo da prosperidade coletiva, e não na ideologia desgarrada da realidade ou nos interesses pessoais, corporativos ou partidários.

Na 3ª-feira dei a minha aula da disciplina de Impact Investing a 55 alunos de mestrado da Católica-lisbon, 80% dos quais internacionais. Falei-lhes sobre como criar fundos de investimento que podem ter retornos elevados investindo em empreendedores de impacto. Trouxe como orador convidado Henry Wigan, cofundador do fundo português Mustard Seed Maze, que mobilizou 45 milhões de euros em 2019. Este fundo já investiu, durante o período de pandemia, em mais de 25 start-ups de impacto de toda a Europa que estão a desenvolver soluções inovadoras e potencialmente lucrativas para alguns dos desafios mais complexos da sociedade, como sejam a redução do desperdício, o acesso a cuidados de saúde e a educação para a tecnologia. A área de investimento de impacto está em grande crescimento em todo o mundo e tem o potencial de ajudar o sistema financeiro a redescobrir o seu papel de orientar os recursos da humanidade para as áreas mais produtivas da economia, papel que parecia estar perdido desde a crise financeira de 2008.

Na 4ª-feira fui a Setúbal como orador convidado no jantar dos líderes da rede mundial de Impact Hubs – incubadoras de impacto presentes em mais de 100 cidades do mundo, incluindo Lisboa. Falando para mais de 100 líderes desta rede, que conta com perto de 25.000 membros, disse-lhes que a inovação social e empreendedorismo de impacto era agora adubo que fertiliza os trabalhos nos diferentes setores – empresarial, social e público – trazendo inovação, desafiando a tradição, e orientando estes setores para uma maior criação de valor. Desafiei-os a fo

O prazer está na caminhada, não no destino.

carem-se no crescimento da sua rede em qualidade e não em dimensão, em focarem-se na interseção entre o impacto e a tecnologia, e a promoverem parcerias com universidades para passarem a lógica do empreendedorismo de impacto para as novas gerações.

Na 5ª-feira de manhã fui orador no Congresso da APDC, comentando também a intervenção do economista Sérgio Rebelo, antigo aluno da Católica-lisbon, professor da Kellog School of Management e um dos economistas portugueses mais conceituados da atualidade. O Sérgio, com a sua capacidade única de explicar conceitos complexas de forma simples, trouxe-nos ideias poderosas. Uma delas foi que embora esteja a acontecer uma reversão da globalização nos produtos, existe um acentuar da globalização nos serviços, em que a economia digital facilita a criação de monopólios naturais globais. Falou também em processos de desintermediação em que os vencedores serão as plataformas digitais globais e as grandes empresas com marcas fortes, capazes de servirem diretamente os seus clientes. No meu comentário referi que Portugal se devia posicionar cada vez mais como país que atrai grandes centros de desenvolvimento e de serviços partilhados (as novas Autoeuropas).

Nesse mesmo dia, à hora de almoço, fui orador na tomada de posse da nova direção da Associação de Estudantes da Católica-lisbon, tendo sido inspirado pela dinâmica, entusiasmo e vontade de servir destes alunos. Há apenas nove meses entraram como caloiros e agora já se assumem como líderes entre pares, num exemplo de liderança pelo serviço.

E, ao fim do dia de 5ª-feira, falei a 37 líderes empresariais portugueses sobre o potencial do empreendedorismo de impacto para transformar o mundo corporativo, reorientando as estratégias empresariais para um foco maior na criação de valor e na descoberta de oportunidades de mercado alinhadas com os desafios da sustentabilidade. Esta palestra teve lugar no jantar de encerramento da 1.ª semana do Advanced Management Program (AMP), o nosso programa executivo sénior em parceria com Kellog, que lançámos há mais de uma década. Os participantes estavam inspirados após uma semana de intensa aprendizagem e motivados pela perspetiva da semana em Kellog – Chicago, que acontecerá no final de maio.

6ª-feira foi um dia dedicado à gestão da escola, bem como à preparação da minha intervenção na 2ª-feira, dia 16 de maio, na conferência anual da AMBA – Associação dos MBA, que este ano se desenrola em Lisboa com deans de escolas de todo o mundo. Planeio falar da transição digital bem-sucedida da Católica-lisbon no período da pandemia, do investimento em equipamento tecnológico que foi realizado pela Universidade Católica para dar aos seus alunos a melhor experiência online, e dos programas de formação executiva que desenhámos de raiz para serem lecionados remotamente, com grande sucesso, como o programa em Purpose Driven Business e os programas de Marketing Tools in a Digital World, E-commerce e Blockchain. A pandemia trouxe desafios de transformação às business schools, mas trouxe também grandes oportunidades de servir com conhecimento de ponta as necessidades de formação globais. Mas falta ainda vencer desafios, como sejam o aprofundar dos modelos pedagógicos remotos e a criação de um ecossistema de diferentes ferramentas que propiciem uma aprendizagem remota única e diferenciada – uma estratégia “beyond Zoom”.

Não há momento de descanso ou de acalmia para um dean de business school, como não tem havido para nenhum gestor nos últimos dois anos. O prazer está na caminhada, não no destino.

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2022-05-17T07:00:00.0000000Z

2022-05-17T07:00:00.0000000Z

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