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A política monetária atrasou-se. E a orçamental?

CAMILO LOURENÇO Analista de economia camilolourenco@gmail.com

A pandemia levou a Comissão Europeia a flexibilizar as regras orçamentais que governam a Zona Euro (défices até 3% e redução da dívida para os 60% do PIB). A suspensão vigora até final deste ano, e há vários meses que a Comissão discute o que fazer a seguir. Deve-se terminar já com a “cláusula de salvaguarda”? Ou deve dar-se mais um ano para uma consolidação mais suave? Paolo Gentiloni, o comissário da pasta, anunciou ontem que a Comissão vai anunciar o veredicto na próxima semana.

A Comissão devia anunciar já o aperto das regras. Porquê? Por causa do disparo da inflação que, ao contrário do que diz a classe política (o BCE abandonou esta narrativa na semana passada), a principal razão não é a guerra na Ucrânia. É o atraso na “normalização” da política monetária. Ou seja, o BCE já devia ter começado a enxugar moeda há um ano. Não atuou, com receio das consequências políticas e, com isso, deixou que o excesso de moeda contribuísse para alta dos preços.

Ora é isso que coloca pressão sobre a política orçamental: se o BCE não atuou a tempo (a primeira subida de juros está prevista para julho), aumenta a pressão sobre a política orçamental. Isto é, sobre a necessidade de reduzir défices e dívida.

Gentiloni diz que em 2022, dos 19 países do euro, 17 não vão cumprir o limite de 3% para o défice. E que em 2023 esse número desce para 11 (Portugal está nos cumpridores). Mais uma razão para reintroduzir as regras em 2022. O não aperto atempado da política monetária não pode ser acompanhado de política orçamental laxista. A menos que a Zona Euro esteja a pedir um aperto violento e rápido dos juros. A que se seguiria uma recessão.

OPINIÃO

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2022-05-17T07:00:00.0000000Z

2022-05-17T07:00:00.0000000Z

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