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Portugal investe 35 milhões em Sines para reexportar gás

Governo prepara solução para ajudar a repor reservas alemãs. Plano nacional passa ainda pela construção de um novo depósito no Terminal da REN, num projeto de cerca de 30 milhões de euros.

BÁRBARA SILVA barbarasilva@negocios.pt DIANA RAMOS dianaramos@negocios.pt

Até ao final do ano estarão a sair de Sines navios metaneiros de pequena dimensão, em direção aos portos do centro e Norte da Europa, carregados de gás natural liquefeito. Daqui a dois anos o Terminal da REN contará com novo depósito de armazenamento que custará 30 milhões.

Perante a extrema dependência da Europa face ao gás natural russo, Portugal quer ser parte da solução e para isso vai criar no Porto de Sines um novo “hub” de reexportação de gás natural liquefeito (GNL). No atual contexto, têm sido mantidas conversações de alto nível em Bruxelas para apoiar a Alemanha nas suas reservas de gás para o próximo inverno e ajudar a garantir uma reposição de 30%, apurou o Negócios.

Quanto ao plano para Portugal se tornar num país reexportador de gás, este terá um custo de cerca de 35 milhões de euros, a vários anos, e é composto por várias etapas. A mais demorada será a construção de um novo depósito de gás no Terminal da REN - Redes Energéticas Nacionais, o que poderá demorar até dois anos e custará cerca de 30 milhões de euros, sabe o Negócios. Neste momento existem três tanques de armazenamento com uma capacidade comercial de 390.000 de metros cúbicos de GNL.

No entanto, o projeto começará em breve por uma solução de mais curto prazo: a otimização da capacidade de operação “navio a navio” do maior porto de águas profundas do país, que deverá exigir um primeiro investimento de cerca de 4,5 milhões de euros. Com introdução desta nova tecnologia “ship-to-ship”, em cais do Terminal de GNL, com defensas flutuantes, ou com utilização de dois cais de acostagem, no espaço de seis meses Portugal poderá estar já a enviar navios metaneiros de pequena dimensão com gás natural liquefeito para o resto da Europa.

Como apurou o Negócios junto de fonte do setor e está também referido no relatório “LNG no atual contexto europeu e as oportunidades para o Porto de Sines”, já avançado pelo jornal Expresso, neste momento Sines não tem capacidade para exportar gás natural, mas “como a solução imediata se revela insuficiente para uma operação viável com escala, procuraram-se outras soluções complementares de maior capacidade com introdução de novas tecnologias”.

Isto permitirá aumentar em 6,3 mil milhões de metros cúbicos a capacidade do Porto de Sines. Só para se ter uma ideia da dimensão, neste momento Portugal importa anualmente para consumo próprio 5,5 mil milhões de metros cúbicos ( bcm) de gás natural. No fundo, isto permitirá aumentar o número de navios metaneiros de grande dimensão que chegam por mês a Sines, passando depois o GNL para navios mais pequenos que seguem para outros países europeus, sem capacidade para acolher grandes embarcações.

“O Porto de Sines dispõe de uma solução potencialmente ime

22 IMPORTAÇÃO Este ano, o país está já nesta altura com mais GNL importado do que em igual período de 2021. Até agora 22.596 GWH.

6,3 MAIS CAPACIDADE O novo plano levará a um aumento da capacidade do Porto de Sines em 6,3 mil milhões de metros cúbicos.

diata (que pode estar disponível num prazo até seis meses a um ano), com uma capacidade de oferta de 4,5 a 6 bcm/ano, sem interferir com a normal operação do Terminal de GNL”, refere o mesmo documento.

Já a médio prazo foi também analisada uma solução navio-a-navio com utilização de dois cais de acostagem, que possibilita a realização de operações com navios em ambos os cais e viabilizará caudais de enchimento da ordem dos 8.000 m3/ hora. Adicionalmente, tem a vantagem de usar o próprio terminal como armazenamento, permitindo o não sincronismo da presença do navio abastecedor, além de constituir uma solução mais flexível do ponto de vista logístico.

Por último, esta solução cria também condições para futuras cargas e receção de hidrogénio verde, potenciando a utilização do gasoduto 100% destinado a este gás renovável já em projeto para a zona de Sines.

Já chegaram 24 navios com gás natural a Sines em 2022

Neste momento, o Terminal de GNL de Sines é composto por uma estação de acostagem para navios com uma capacidade de 40.000 a 216.000 m3 GNL com um tempo de descarga de aproximadamente 20 horas; três tanques de armazenamento (no futuro serão quatro) com uma capacidade comercial de 390.000 m3 GNL; e sete vaporizadores destinados à regaseificação do GNL.

O terminal operado pela REN tem uma capacidade nominal de emissão de 900.000 m3/ hora (máxima de 1,4 milhões de m3/ hora) e pode carregar até 36 camiões-cisterna por dia.

No acumulado de 2022 (ou seja, até abril), Sines recebeu 24 navios (seis no mês passado) carregados de gás natural vindo da Nigéria (55,9%), Rússia (4,8%), Estados Unidos (33%), Trinidad e Tobago (6,2%) e outras geografias, num total de 22.596 GWH. Comparando com o período homólogo são mais 11,3%, o que significa que este ano o país está já

O plano para Portugal se tornar num país reexportador de gás terá um custo de 35 milhões de euros, a vários anos. É composto por várias etapas e a mais demorada será a construção de um novo depósito de gás.

75%

ARMAZENAMENTO

Um total de 75% da capacidade de armazenamento de gás está concentrado em apenas cinco países, com destaque para a Alemanha.

neste altura com mais GNL importado do que em igual período de 2021.

Alemanha tem a maior capacidade para armazenar

Em março, o Governo dava conta de que Portugal tinha as suas reservas de gás natural a mais de 85%, acima do que pede a União Europeia. A Comissão não quer que se repita o cenário do último inverno e quer fixar em 80% o nível mínimo de reservas de gás armazenado em instalações subterrâneas que os Estados-membros devem assegurar até 1 de novembro de 2022. Nos anos seguintes, este valor subirá para 90%.

Até agora, as regras comunitárias eram bem menos apertadas e as reservas de gás armazenadas nos diferentes países, num inverno normal, correspondiam a apenas 25 a 30% do gás natural consumido na União Europeia.

De acordo com o Eurostat, a capacidade total de armazenamento subterrâneo de gás na União Europeia é de 1100 TWH (ou seja, 100 mil milhões de metros cúbicos), distribuídos por 160 locais em 18 Estados-membros, incluindo Portugal.

No entanto, 75% da capacidade total de armazenamento de gás está concentrada em cinco países: Alemanha (245,3 TWH), Itália (197,7 TWH), França (128,5 TWH), Países Baixos (143,8 TWH) e Áustria (95,5 TWH). Portugal surge em último na lista com uma capacidade de armazenamento de gás de apenas 3,6 TWH.

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2022-05-17T07:00:00.0000000Z

2022-05-17T07:00:00.0000000Z

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