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Inflação? Que ideia

PAULO CARMONA

Entre as nossas apostas sobre a aprovação do Orçamento, a inflação vai subindo inexoravelmente, um pouco por todo o mundo. Seria de esperar que mais tarde ou mais cedo tanta criação de dinheiro pelos bancos centrais, ainda no rescaldo da “crise Lehman”, numa economia estagnada e depois no combate à pandemia, resultasse em inflação. A somar a este “too much money chasing too few goods”, as ruturas das cadeias abastecimento pós-covid e a geopolítica energética fizeram o resto.

Tanta liquidez acabou na bolsa, valorizando os detentores das empresas cotadas, e todos investiram em ações, arte e imobiliário, ativos detidos pelos mais ricos, cada vez mais ricos. Nunca a desigualdade mundial foi tão elevada à conta da salvação do mundo pós-covid… mas esse é outro assunto.

A acrescentar ao aumento do preço dos bens, temos também o grande problema do talento. É cada vez mais difícil, no mundo ocidental, conseguir contratar e reter talentos nas empresas. Este fim de semana a FEDEX pôs um anúncio num intervalo da NFL, não aos seus produtos, mas basicamente a pedir para virem trabalhar para a empresa, “come and work for us”. Tirando o exército, é a primeira vez que tal pub é vista em “prime time” na TV. O WSJ fala em debandada dos trabalhadores para teletrabalho ou vidas mais simples, no pós-covid. Por cá, o mais recente inquérito mensal do FAE - Fórum de Administradores de Empresas, passe a publicidade, refere a contratação de talento como a maior preocupação dos seus 400 associados, o MEOS da Manpower refere que a escassez de talento em Portugal atingiu máximos históricos, confirmado por gestores e recrutadores. Em economias mais flexíveis isso causa normalmente aumento de salários e condições laborais para aumentar a atratividade na competição pelo talento. Custo de materiais e salários mais elevados, outputs mais caros, inflação.

E como se combate? Muito na expectativa dos consumidores e através de aumento da taxa de juro a inibir o consumo. Esta última seria a desgraça de economias muito endividadas como a nossa. A primeira é mais fácil, talvez… é necessário negar que haja inflação, ou que a mesma seja passageira. Negar a evidência, como o ministro de Saddam. Se eles descobrem, antecipam o consumo e exigem aumento de salários, aí entra fora de controlo. Esperemos que não, mas protejam-se.

“Inflação na Zona Euro continua a subir e atinge 3,4%.”

NEGÓCIOS

20 DE OUTUBRO DE 2021

OPINIÃO

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2021-10-26T07:00:00.0000000Z

2021-10-26T07:00:00.0000000Z

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