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A política numa rotunda

A MÃO VISÍVEL Observações sobre o impacto das políticas para toda a sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às de efeitos imediatos e dirigidas apenas a certos grupos da sociedade. maovisivel@gmail.com JOAQUIM AGUIAR ÁLVARO NASCIMENTO A

Aarmadilha da rotunda é não indicar o caminho para o futuro. A rotunda tem saídas, mas se os viajantes não chegarem a acordo sobre qual delas escolher, ficam condenados a andar à volta sem sair do sítio. Quando a política entra numa rotunda, não conseguirá sair dessa posição, anda-se à volta, mas não se avança. É agora que se torna visível o que a análise política permitia prever: uma maioria parlamentar pode ser estável, mas se não for coerente chegará a uma rotunda de onde não poderá sair porque a falta de coerência não lhe permite chegar a acordo sobre a saída a escolher. E isso tanto pode acontecer com uma maioria de esquerda como com uma maioria de direita, porque pequenos partidos numa coligação podem capturar o poder de bloqueio que impede a saída da rotunda. É por isso que a votação do Orçamento, como seria a votação de uma moção de confiança, é um teste definitivo sobre a continuidade de uma coligação parlamentar.

Mas isso também esclarece o que se passou antes de se entrar na rotunda: afinal, já não havia coerência estratégica antes, apenas havia interesses conjuntos e quando se entrou na rotunda desapareceram os interesses conjuntos.

A estagnação económica é o resultado da rotunda política, porque esta não permite que se formule uma estratégia de crescimento em que já nem interesses conjuntos há. Mas é a crise económica induzida pela covid-19 que vai alterar radicalmente as condições económicas e as possibilidades políticas. Para Portugal, a dependência dos dispositivos institucionais, dos recursos financeiros e dos programas e condicionalidades políticas estabelecidas pela União Europeia será a nova realidade efectiva das coisas onde se terão de inscrever as estratégias de recuperação e de reconstrução. E tudo isto implica que a saída da rotunda em que a política portuguesa ficou presa terá de ser responsabilidade dos que tiverem posições e propostas que sejam compatíveis com este enquadramento europeu, que passou a ser o referencial necessário para as decisões políticas portuguesas.

A aprovação do Orçamento para evitar eleições antecipadas, ou a rejeição do Orçamento para conduzir a eleições antecipadas, não altera a questão central: só se sai da rotunda interiorizando a questão europeia na política nacional.

“É absolutamente necessário libertar o centro da chantagem dos extremos. O país não pode ficar nas mãos de 5 ou 10 por cento dos eleitores.”

HENRIQUE MONTEIRO

EXPRESSO

23 DE OUTUBRO DE 2021

OPINIÃO

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2021-10-26T07:00:00.0000000Z

2021-10-26T07:00:00.0000000Z

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