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Clubes procuram dinheiro fresco para travar sangria

O Futebol Clube do Porto poderá juntar-se ao rival encarnado na procura por novos acionistas, de forma a melhorar contas. O controlo da SAD não deverá ser posto em causa com uma eventual operação, apesar de ter acontecido noutros países e noutras ligas.

LEONOR MATEUS FERREIRA leonorferreira@negocios.pt

Depois do Benfica, também o Porto poderá estar na mira de investidores internacionais. O clube azul e branco estará à procura de novos acionistas pondo assim dois dos três grandes na calha para a entrada de capital estrangeiro, numa altura em que as contas continuam fortemente afetadas pela pandemia. As posições não deverão, em nenhum dos casos, ser maioritárias pois a tradição em Portugal é que o controlo das Sociedades Anónimas Desportivas (SAD) se mantenha nas mãos do clube, mas poderão ser passos adicionais no sentido da mudança nas estruturas acionistas.

Os dragões estarão a considerar a venda de uma posição minoritária na SAD do clube, depois de essa possibilidade ter sido sondada por investidores estrangeiros, de acordo com a Bloomberg, que cita fontes próximas do assunto. Para já, não foram divulgados nomes dos potenciais interessados na compra.

“A principal questão é porque é que o Porto procura novos investidores. Se for para vender algumas ações e arranjar liquidez, não me parece boa ideia. Se for para arranjar um parceiro forte, então sim”, diz Diogo Luís. O consultor financeiro na Golden Wealth Management aponta que o clube tem custos fixos muito elevados face às receitas fixas que tem, pelo que um novo investidor poderá ajudar a gerar receitas adicionais. “Um novo acionista ou parceiro pode abrir [o clube] a novos mercados, expandir em termos de geografias e segmentos de negócios. Um bom investidor não serve só para ir ajudar nas ações”, sublinha o consultor.

Os azuis e brancos são o clube com maior controlo sobre a SAD: tem 76%, contra 67% no caso do Benfica e 64% do Sporting. Têm 11% em bolsa, próximo dos 10% que têm as águias, mas longe dos 3% dos leões.

O potencial comprador não é ainda conhecido. O Record chegou a avançar que o norte-americano John Textor (que está a negociar a compra de uma posição minoritária no Benfica) teria comunicado a responsáveis do clube da Luz que fora contactado para investir no FC Porto. Mas o próprio empresário, que também

“Qualquer sociedade estrangeira pode comprar uma SAD em Portugal. Só tem de fazer uma comunicação posterior. Muitas vezes não sabemos quem está por trás.

FERNANDO VEIGA GOMES Presidente da Comissão de Direito Desportivo da Associação Internacional de Advogados

O que temos defendido para as três SAD é um aumento de capital com cautela para que os clubes não percam a maioria do capital, que seria muito perigoso para a estabilidade. CARLOS RODRIGUES Presidente da Maxyield - Clube dos Pequenos Acionistas

Um novo acionista ou parceiro pode abrir [o clube] a novos mercados, expandir em termos de geografias e segmentos de negócios. Um bom investidor não serve só para ir ajudar nas ações. DIOGO LUÍS Consultor financeiro na Golden Wealth Management “

entrou recentemente no capital do Crystal Palace, afastou a possibilidade. Carlos Rodrigues, presidente da Maxyield – Clube dos Pequenos Acionistas, também vê as dificuldades financeiras como uma motivação para a operação, considerando que o mais importante é a forma como se possa processar.

“O encaixe financeiro seria para a casa-mãe, que reduz a sua posição na Porto – Futebol, SAD”, aponta Carlos Rodrigues, defendendo que a SAD “deveria melhorar a sua situação a nível de capitais próprios, que presentemente são negativos”, através de um aumento do capital. “O que temos defendido para as três SAD é um aumento de capital com cautela para que os clubes não percam a maioria do capital, que seria muito perigoso para a estabilidade. Nesta fase, vive-se alguma instabilidade no capital dos clubes e esta solução é uma válvula de segurança.”

Dos três grandes, o Benfica é o único que mantém capitais próprios positivos, enquanto o Porto é o que tem o maior buraco: de 118 milhões de euros. A degradação da situação contabilística é vista pela Maxyield como uma justificação para o diferencial entre o valor nominal das ações e a cotação em bolsa, o que “dificulta muito os processos de capitalização”.

É neste cenário que os investidores internacionais são vistos como uma tábua de salvação. Como tem, aliás, vindo a acontecer em vários clubes nacionais como o Tondela (que está neste momento a ser alvo de venda aos brasileiros do Flamengo), o Setúbal ou o Vitória de Guimarães. As SAD eram tradicionalmente detidas pelos clubes, ficando nos estatutos previsto que uma alteração a esta regra fosse colocada à consideração dos sócios. Graças a esta possibilidade, houve casos de venda de posições maioritárias. Mas nem sempre correu bem, com o Belenenses a entrar numa guerra acionista que levou à cisão entre clube e SAD, enquanto o Boavista está a ser alvo de investigação pelo regulador no seguimento da chegada de Gérard Lopez.

“Em 2015, a FIFA proibiu a partilha de direitos económicos de jogadores e os investidores passaram a olhar para as SAD”, explica Fernando Veiga Gomes, sócio da Abreu Advogados, sobre o aparecimento destes acionistas. Os três grandes são cotados em bolsa, pelo que qualquer alteração à estrutura acionista tem de cumprir os critérios do Código dos Valores Mobiliários. De resto, “qualquer sociedade estrangeira pode comprar uma SAD em Portugal”, tendo apenas de fazer uma comunicação posterior.

De acordo com o presidente da Comissão de Direito Desportivo da Associação Internacional de Advogados, estas regras são demasiado permissivas. “Muitas vezes não sabemos quem está por trás destes investidores”, alerta Veiga Gomes, cuja expectativa é que o tema seja alvo de alterações. Uma das possibilidades é que o licenciamento prévio à entrada de investidores possa ser incluído na alteração ao regime jurídico das SAD, que o Governo já disse que está a preparar.

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2021-10-26T07:00:00.0000000Z

2021-10-26T07:00:00.0000000Z

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