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Uns querem, outros não

CELSO FILIPE Diretor adjunto cfilipe@negocios.pt

Excetuando o ano de 2015, em que o então Presidente da República, Cavaco Silva, exigiu um acordo por escrito para dar posse a António Costa como primeiro-ministro, a geringonça do PS foi funcionando estes anos todos no registo do bate-boca e à base de acordos conseguidos no limite para viabilizar sucessivos Orçamentos do Estado.

Nestes anos de alternância democrática, a história tem-nos ensinado uma lição simples. O centro-direita e a direita entendem-se quando chega a hora de formar governo, na esquerda e centro-esquerda, só o PS é que se assume como um partido de poder.

Esta premissa não é nova, mas constitui um constrangimento cada vez maior. Enquanto o CDS sempre se assumiu como um partido de governo, disposto a fazer coligações para alcançar esse desiderato, o PCP e o Bloco de Esquerda renegam essa possibilidade, acantonando-se no refúgio, cada vez mais exíguo, do contrapoder. São oposição e pretendem atrair os eleitores desencantados com o regime ou os que pertencem a minorias que nunca deixarão de o ser.

O resultado desta configuração política é o de que o campo de alternativas para formar um governo é muito mais aberto para o PSD do que para o PS.

Esta crise, desencadeada pela decisão do BE e do PCP de votarem contra a proposta de Orçamento do Estado para 2022, acaba por ser natural, até porque algumas das exigências feitas pelos dois partidos pretendem impor um modelo de governação económica e social que não foi, de todo, escolhido pela maioria dos portugueses. Aliás, se tivesse sido, seria um deles (ou até os dois) a formar governo.

Curiosamente, nem a ameaça de eleições antecipadas nem a possibilidade de um regresso do PSD ao poder parecem ser capazes de tirar o PCP e o BE da sua irredutibilidade. Ou seja, os dois resignam-se ao papel de contrapoder, e, presumivelmente, até consideram que o poderão exercer de forma mais eficaz com um governo social-democrata.

Traçar cenários é sempre um exercício de adivinhação. No entanto, parece ser óbvio que o PCP e o Bloco de Esquerda, em caso de eleições antecipadas, serão vítimas do chamado voto útil.

O PCP e o Bloco de Esquerda serão vítimas óbvias do chamado “voto útil”.

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2021-10-26T07:00:00.0000000Z

2021-10-26T07:00:00.0000000Z

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