Susana Gomes foi diagnosticada com cancro no colo do útero em fase muito avançado porque, denuncia, o Serviço Nacional de Saúde falhou. A história de sofrimento que atirou a mulher, de 44 anos, para a condição de pré-menopausa poderia ter sido diferente se o Hospital de Viseu tivesse comunicado à paciente o resultado de uma citologia, realizada em agosto de 2019 e que já dava sinais de que algo não estava bem.

A convocatória para consulta pós-exame, que a unidade diz ter enviado por carta, nunca chegou à morada de Susana. “Nunca recebi nada. Mas com os

UNIDADE RECONHECE CAOS COM ADIAMENTOS DEVIDO À PANDEMIA

meios alternativos de existem hoje, porque é que não me ligaram ou mandaram uma simples mensagem?”, questionou, em jeito de lamento. Segundo o Hospital de Viseu “a consulta, marcada para o mês seguinte, nunca chegou a ser realizada por falta de comparência da utente”. “A médica de família disse-me que só seria contactada se houvesse um problema, e como ninguém me disse nada, assumi que estava bem”, contrapõe Susana. Em março de 2020, o corpo começou a dar sinais: aumentou de peso e passou a sofrer de hemorragias regulares. A 16 de novembro, as dores “insuportáveis” atiraram-na para a Urgência de

Ginecologia de Viseu. “Colocaram-me na maca, mas não fui observada como deve ser. Viram a hemorragia, mas não chamaram um médico mais experiente e fiquei na mesma”, recordou.

Susana Gomes foi deixada à sorte. Deu entrada na unidade de saúde no pico da pandemia e, “com grande parte dos recursos alocados na resposta à Covid, a maioria das consultas e cirurgias foram adiadas”, reconheceu o hospital, em resposta ao CM. Em dezembro de 2020, a mulher recorreu a uma instituição privada. “A médica observa-me e diz que tenho algo de muito grave”. Pegou depois no processo e levou-o para o Hospital de Viseu. Fez uma biopsia e, em dez dias, ficou a saber que tem um tumor maligno no colo do útero.n