João Pereira Coutinho

Amorte de Otelo não mostrou a divisão da sociedade portuguesa. Mostrou, quando muito, a divisão entre histéricos de esquerda e de direita que ainda vivem cativos em 1974-75. Foi entre eles, aliás, que nasceu a pergunta bizarra: Otelo merecia luto nacional?

Curiosamente, não passou pela cabeça desta estirpe a pergunta mais acertada: será que Otelo queria essa homenagem? No fundo, a

SERÁ QUE OTELO QUERIA A HOMENAGEM DO LUTO NACIONAL?

homenagem de uma democracia liberal e representativa em que ele nunca se reconheceu?

É legítimo pensar que não: Otelo ‘fez’ o 25 de Abril; mas, como o próprio sempre afirmou, não foi para entregar o país à ‘democracia burguesa’ actualmente em cena. A democracia de Otelo era revolucionária e directa, tal como ele fez questão de ilustrar no COPCON, nas candidaturas presidenciais e no terrorismo das FP-25.

Seria insultuoso ter o regime que derrotou Otelo a apropriar-se dele no final.n