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A posteridade não é para todos

Leonor Pinhão

‘AQUILO’, ACREDITEM, ERA INACREDITÁVEL DA CABEÇA AOS PÉS

NÃO SÃO MUITOS OS JOGADORES QUE, TERMINADAS AS CARREIRAS, SE PROLONGAM NUM ESTADO DE PAIXÃO INCONDICIONAL COM O MUNDO QUE OS APLAUDIU. PARA ESSA PROEZA DA POSTERIDADE, O CAMPO ONDE AGORA JOGA CHALANA, É NECESSÁRIO MAIS DO QUE TALENTO PARA JOGAR FUTEBOL

O que se poderá dizer mais sobre Fernando Chalana que ainda não tenha sido dito? E como explicar aos que nunca o viram jogar a magnitude do seu reportório e o patamar único a que elevou o espetáculo do futebol? O que o Youtube nos disponibiliza hoje das capacidades de Chalana é curto, curtíssimo, para que os mais novos se capacitem da real dimensão da arte e do artista. No entanto, a juventude não falhou ontem na despedida de Chalana organizada pelo Benfica no Estádio da Luz. Contaram-lhes os pais, contaram-lhes os avós, certamente, o que era ‘aquilo’, como era ‘aquilo’, como era aquela alegria do povo em vertigem e em glória.

Há, sempre houve e sempre haverá, gerações de jogadores extraordinários que deixaram, deixam e irão deixar a sua marca no vasto público, nos clubes e nos adeptos dos clubes que servem ou que serviram. Mas são raros os que, terminadas as carreiras e as vidas, se prolongam num estado de paixão incondicional com o mundo que os admirou e aplaudiu. Para essa proeza da posteridade, que é o campo onde agora joga Chalana, é necessário muito mais do que talento para jogar futebol. É preciso a soma de um carácter generoso com uma personalidade única. E a ternura. Nada disto se compra, felizmente. Mas Chalana tinha isto tudo. E tinha também, em doses elevadíssimas, aquele atributo de uma humildade ge- nuína, não a ‘humildadezinha’ dos farsantes, mas a verdadeira humildade da não-vaidade, da não-soberba, da não-pompa, da não-ostentação. Era assim o Chalana e, justamente por ter sido assim, só a evocação do seu nome continuará a provocar vagas de reconhecimento, de empatia e de paixão nos que o viram jogar e nos que nunca o viram jogar. Fenómenos misteriosos são estes do futebol. “Aquilo”, acreditem, era inacreditável.

Cristiano Ronaldo, ou melhor, ‘o caso’ Cristiano Ronaldo continua a ser um tema da atualidade. Não pelos golos que marca, mas pelas notícias da sua insatisfação com o Manchester United que considera não dispor de uma equipa ao seu nível. Ao nível dele, claro. É a sua maneira de desconsiderar o clube que o projetou e os colegas a quem não reconhece méritos para alinharem ao seu lado. Nas últimas semanas têm sido muitas as notícias sobre clubes que poderiam interessar a Ronaldo para prosseguir a sua carreira – Bayern, PSG, Chelsea, Atlético de Madrid, entre outros – mas logo surgiram os presidentes ou os treinadores desses emblemas a sugerir, com delicadeza e tino nas palavras, que não, que não vai acontecer. Cristiano Ronaldo, que é uma figura incontornável do futebol mundial, tem visto as suas pretensões descartadas com diplomacia. Até surgir a vez do Real Madrid ser apontado como um possível destino do jogador. “Contratar Cristiano? Outra vez? Mas ele já tem 38 anos!”, respondeu Florentino Pérez, um ex-patrão, sem diplomacia nenhuma. Alguma vez tinha de acontecer.

OPINIÃO

pt-pt

2022-08-13T07:00:00.0000000Z

2022-08-13T07:00:00.0000000Z

http://quiosque.medialivre.pt/article/282767770384213

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