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Cansaço e cavadelas

Pedro Adão e Silva Professor Universitário

1 Não estou certo de qual teria sido a estratégia acertada para o Benfica-Bayern. Agora que conhecemos o resultado e o desenrolar da partida, é mais fácil ter certezas, mas, nem por isso, a resposta passou a ser fácil. Perante os bávaros, o Benfica enfrentava um dilema: ou adotava uma abordagem conservadora, dando a iniciativa do jogo, defendendo em bloco baixo e procurando diminuir o ritmo, ou, alternativamente, procurava disputar o jogo, apostando em transições rápidas e esperando que o Bayern estivesse num dia menos inspirado.

Ambas as estratégias tinham riscos:

com uma abordagem defensiva, a equipa seria chamada a vestir uma roupa que não era a sua e a estratégia para o jogo chocaria com a identidade do clube, por definição ofensiva. É verdade que em Eindhoven, o Benfica se limitou a defender, mas foi uma exceção, mais consequência das incidências do jogo (a expulsão prematura de Lucas Veríssimo) do que escolha estratégica. Já com uma atitude ofensiva, os riscos eram também óbvios: com uma dinâmica de toada e resposta, chegaria o momento em que o jogo se partiria e a maior qualidade individual dos alemães sobressairia, desequilibrando o desfecho. Tendo em conta a forma como o Glorioso se apresentou, era uma questão de tempo até o Bayern marcar o primeiro golo e, a partir daí, quanto mais tempo durasse o jogo, mais o Benfica ficaria exposto.

Porventura, a estratégia certa

seria qualquer coisa de intermédio, assente, desde logo, na busca da diminuição da intensidade do jogo. Talvez resida aí o principal problema da Champions. Em Vizela, para além da desinspiração, a equipa apresentou-se cansada e passiva, transportando para a Liga as sequelas do ritmo e do resultado do jogo com o Bayern. Por isso mesmo, é estranho que o onze tenha sido praticamente o mesmo (de que serve a profundidade do plantel proclamada no defeso?) e que Jorge Jesus tenha revelado uma passividade exasperante na gestão das substituições. Questionado legitimamente sobre as opções tomadas em Vizela, em lugar de esclarecer os adeptos, o treinador optou por argumentos de autoridade. A autoridade que, depois de um ano e meio de equívocos, lhe vai manifestamente faltando.

2 Darwin Núñez foi criticado por, na sequência de uma jogada em que surgiu isolado e foi capaz de superar o guarda-redes do Vizela, não ter cavado a grande penalidade. O uruguaio, que é um jogador de enorme potencial, tem falhas técnicas gritantes e défices de critério na forma como joga, mas, desta feita, andou bem. Bem sei que estamos rendidos ao cinismo e que valorizamos os piscineiros, cavadores de faltas, mas ainda bem que Darwin procurou continuar o lance e marcar golo.

BENFICA

pt-pt

2021-10-26T07:00:00.0000000Z

2021-10-26T07:00:00.0000000Z

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