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O silêncio de Jorge Jesus

Rui Calafate Consultor de comunicação

JJ APRENDEU QUE COLOCAR EXPECTATIVAS NO PICO SERIA RISCO DEMASIADO ELEVADO

JESUS NÃO ESTÁ A SER A LOCOMOTIVA COMUNICACIONAL DO BENFICA COMO FOI NO PASSADO, PODE SER O INDÍCIO DE QUE APRENDEU QUE TUDO SE REDUZ A GERIR EXPECTATIVAS

O Benfica continua enrolado num tsunami que só a vertente desportiva pode acalmar. Continuam os recados pela imprensa de Luís Filipe Vieira, aquele “quem me tramou foi o Moniz” é o espelho da paz podre entre quem governou o clube durante 18 anos e os que ele meteu nos seus órgãos sociais para os calar depois de serem oposição, na sequência da velha máxima de Lao-Tse tornada famosa por D. Vito Corleone no ‘Padrinho’: “Mantenha seus amigos por perto e seus inimigos mais perto ainda”.

Quando há eleições no ar

sem a presença do incumbente, é certo e sabido que a instituição oscila, qualquer que ela seja. No caso do Benfica há ainda uma ordem moral (como aqui lhe chamei no passado) que tem de ser restabelecida. O ‘modus operandi’ tem de mudar, a opacidade e suspeitas têm de ser varridas das percepções generalizadas e os casos de justiça que impendem sobre o ex-timoneiro com consequentes e inegáveis danos reputacionais não podem ser assombração permanente.

A força da sua massa associativa

e da marca têm sido o escudo contra males maiores. Os adeptos querem paz e vitórias, os patrocinadores a mesma coisa. Além do mais, o sucesso do empréstimo obrigacionista e a manutenção/renovação da confiança da Adidas e Emirates comprovam que os encarnados continuam a seduzir marcas ‘premium’.

Agora é tempo de entrar em campo

onde Jorge Jesus está impedido de soçobrar perante a sua Némesis, Rui Vitória. O falhanço clamoroso frente ao PAOK na época transacta aba- lou todos os alicerces. Hoje, AMANHÃ NÃO PERCA será quase imperdoável para os benfiquistas outro fracasso na Champions, até pela saúde financeira que afinal não estava como o aço, ao contrário do que apregoavam, e onde já sobram pequenas migalhas do contrato de direitos televisivos assinados com a NOS.

Rui Costa, e quem o acompanha,

se quer ir a votos (como aqui escrevi há três semanas) com ambições de ganhar precisa de uma águia reluzente e vencedora. Por isso são evidentes as cautelas de Jorge Jesus. Se nos recordarmos bem, há um ano, o treinador era o principal foco da arena mediática no futebol português. Coroado como imperador do Brasil, prometeu arrasar, jogar o triplo e, afinal, saiu o tiro pela culatra e ficou com pouco colo dado pelo carinho dos adeptos fruto de não ter ganho nada.

Eu gosto e respeito muito Jorge Jesus

como grande treinador que é. Fez 67 anos esta semana, está em forma e mantém a mesma paixão e devoção pelo desporto que ama. Mas é evidente que não está a ser a locomotiva comunicacional do clube como foi no passado. Esta sua discrição e apagamento, o silêncio que é pouco dele, podem ser o indício de que aprendeu que tudo se reduz a gerir expectativas. Voltar a colocá-las lá no pico seria um risco demasiado elevado. * Texto escrito com a antiga ortografia LEONOR PINHÃO

OPINIÃO

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2021-07-30T07:00:00.0000000Z

2021-07-30T07:00:00.0000000Z

http://quiosque.medialivre.pt/article/281702617752668

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