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O que vai acontecer em 2020

Por Bruno Lobo

NÃO PRECISAMOS DE UMA BOLA DE CRISTAL PARA PREVER QUE AS ELEIÇÕES AMERICANAS VÃO SER OFENSIVAS E MUITO MAL-EDUCADAS, MAS DAVA IMENSO JEITO TER UMA PARA ACERTAR NO RESULTADO DO EURO 2020. ENTRE PERIGOS E ESPERANÇAS, ALEGRIAS E TRISTEZAS, E SEMPRE MUITAS INCERTEZAS, AQUI FICAM 20 ACONTECIMENTOS QUE VÃO MARCAR OS PRÓXIMOS 12 MESES. TODOS OS 366 DIAS DE UM ANO QUE PROMETE SER TREPIDANTE. 1 Eleições nos EUA – Make America Friendly Again

O resto do mundo olha com grandes expectativas para as eleições americanas na esperança de que uma mudança na Casa Branca possa trazer a América de novo para o coração do mundo ocidental – por oposição aos atuais choques alfandegários, desentendimentos climáticos e acusações sobre quase todos os outros assuntos. Sabemos que as eleições serão tudo menos pacíficas e que o insulto será o principal argumento político, mas convém olhar um pouco para a história para perceber que da última vez que um presidente norte-americano se propôs para reeleição em ambiente economicamente estável e não a conseguiu foi em 1992. É verdade. Bush, pai, perdeu, mas foi em plena recessão. Ou seja, foi há quase três décadas, pelo que Donald Trump deverá ser encarado como o favorito à vitória. Ainda assim, do lado democrata existem algumas razões para otimismo: primeiro, porque com Trump nenhuma tradição parece válida e, segundo, porque as previsões, sem apontarem para uma recessão, indicam, pelo menos, para uma desaceleração que poderá gerar mais descontentamento. As suas taxas de aprovação foram as mais baixas de sempre ao longo de um primeiro mandato presidencial e, finalmente, na eleição que o levou à presidência perdeu o voto popular, ganhando o lugar apenas porque conseguiu algumas vitórias em estados-chave que fizeram com que tivesse os votos suficientes no colégio eleitoral para ser eleito. E essas vitórias foram conseguidas por margens mínimas e será muito difícil repetir a mesma sucessão de acontecimentos.

Pelo meio resta perceber a influência que o processo de impeachment possa ter junto do eleitorado (o desfecho à partida será um “chumbo” no Senado) e que papel vão desempenhar as fake news, de que forma a Rússia e outros estados (como o Irão ou a China) vão tentar influenciar a opinião pública e se o eleitorado americano aprendeu com os erros do passado, acreditando em tudo o que lhe chegava via redes sociais e não apenas em medias fidedignos.

2 Brexit – Vai sair?

Parece que está tudo tratado e o Reino Unido vai mesmo sair da UE, em 2020, ou seja, 47 anos depois de ter entrado para o seio das comunidades europeias. O processo deixou inúmeras feridas abertas dentro da própria sociedade britânica e o país de Isabel II procura um novo papel no mundo.

O acordo está assinado, mas o Brexit é um divórcio e, como sabe qualquer casal que já tenha passado pelo mesmo, isto é só o princípio. O que vai acontecer daqui para a frente nas relações entre o Reino Unido e a UE está por esclarecer: vão continuar amigos ou, pelo contrário, vão desentender-se? Será no próximo ano que as primeiras linhas desta história começam verdadeiramente a ser escritas.

3 Jogos Olímpicos

Tóquio recebe os Jogos Olímpicos de verão com várias novidades. Escalada, skate, surf, basebol, softbol e karaté passam a ser modalidades olímpicas! A ideia será trazer ainda mais espectadores para o evento, sobretudo entre uma nova geração para quem halterofilismo ou luta greco-romana dizem muito pouco. Entre estas novas modalidades, Portugal deverá conseguir qualificar atletas em skate, karaté e surf, mas dificilmente chegaremos às medalhas, o que também não é nenhuma novidade. O objetivo, diz o Comité Olímpico Português, será levar entre 70 a 80 atletas (à semelhança das edições passadas) para conquistar duas medalhas. A canoagem lidera o ataque.

4 A Catalunha e os separatismos

“Quando a Espanha espirra, Portugal constipa-se.” A frase de Metternich, grande diplomata austríaco do século XIX, referia-se à França (“Quando a França espirra, a Europa constipa-se”), mas pode ser adaptada a qualquer situação de dependência, o que aliás tem acontecido várias vezes: “Quando a América espirra”, a “China espirra”, etc. Mas é particularmente certeira para Portugal e para a nossa relação com o país vizinho, de tal forma são fortes os laços económicos e financeiros que nos unem. Ora, a Espanha está farta de “espirrar”, atacada pelo vírus do separatismo que a Catalunha apanhou – e que, em resposta, parece estar a gerar um sentimento de nacionalismo exacerbado. O resultado desse caminho será inevitavelmente um maior antagonismo entre as partes e um escalar de tensões que prometem deixar a Espanha refém desta constipação ao longo de todo o ano. Vamos esperar que não evolua para a Gripe Espanhola. Ainda assim, a Catalunha está longe de ser o único movimento do género, até na Europa, onde o resultado do Brexit terá como consequência inevitável uma nova vaga de independentismo na Escócia. O partido no poder já chamou ao Brexit “um projeto nacionalista inglês imposto aos escoceses”, pelo que as pressões para um novo referendo prometem desgastar ainda mais o Reino Unido e a UE, que terá de lidar com o desejo da Escócia em permanecer na União.

5 A governance do país

António Costa vai governar sem maioria e sem os acordos que levaram a última legislatura até ao fim. Para já, ainda deverá existir consenso suficiente para aprovar o primeiro orçamento, mas depois disso estaremos perante um livro em branco. Até porque o esforço de consolidação orçamental terá de continuar, mas as exigências para acabar com a austeridade acumulam-se e vão marcar a agenda política ao longo do ano. Saúde, Educação, Segurança serão os temas mais “quentes” e que prometem trazer mais agitação social e distanciamento entre o governo e os parceiros à esquerda.

Além disso, a partir da segunda metade do ano, Portugal entra para o triunvirato que gere os destinos da União Europeia, em preparação para assumir a Presidência do Conselho em janeiro de 2021 (os Estados-membros que exercem a Presidência trabalham em estreita cooperação em grupos de três, compostos pelo precedente, atual e futuro) e isso implica um governo mais ausente.

6 Extremismo em expansão

França, Itália, Áustria, Hungria ou Polónia. São vários os movimentos nacionalistas de direita no poder ou muito perto, exercendo uma pressão interna fortíssima sobre a União Europeia. 2020 promete não ser muito diferente dos anos que lhe antecederam neste capítulo, com a agenda política a ser marcada por movimentos populistas de ideais contrários à lógica da União. Para cúmulo, em 2020 celebra-se o centenário do Tratado de Trianon, entre o reino da Hungria e os aliados vencedores da I Guerra Mundial. Segundo o tratado, o antigo reino perdeu um terço da população e dois terços do seu território para os estados vizinhos (Roménia, Checoslováquia, Sérvia, Croácia e Eslovénia) e é considerado o dia mais negro da história do país. O Fidesz, o partido de Órban no poder, tem no seu programa a “reunificação dos húngaros que vivem em diferentes países” e já deu a nacionalidade a quase dois milhões de húngaros no estrangeiro – que desde então votam maioritariamente no partido. E seguramente não vai deixar passar esta oportunidade para exacerbar ainda mais os ânimos nacionalistas.

7 Economia a travar

“As coisas vão piorar antes de melhorarem.” É assim, com esta frase animadora, que começa o relatório da UBS sobre o ambiente económico para 2020. O relatório de uma das maiores financeiras do mundo recolhe o testemunho de mais de 40 estrategas que expõem, ao longo de perto de 400 páginas, as suas previsões para o ano seguinte. E são apontados vários fatores – com a guerra comercial, sem fim à vista, entre os EUA e a China, à cabeça – que levam a uma diminuição da produção industrial. Ninguém fala em recessão, apenas em desaceleração dos três principais blocos económicos (EUA, UE, China), mas a palavra mais referida é mesmo incerteza... quanto ao futuro de Hong Kong, do Brexit, das eleições norte-americanas, dos acordos ou tensões comerciais e por aí fora, pelo que a balança pode pender para qualquer lado. O nosso “irritantemente otimista” primeiro-ministro aposta no melhor dos mundos.

8 Campeonato Europeu de Futebol

Quatro anos volvidos – e uma fase de grupos mais complicada do que se esperava (passámos em segundo, o que nos tirou o estatuto de cabeça de lista) – chegou, finalmente, o momento de Portugal defender a coroa de Campeão da Europa. Para começar tivemos azar e estamos no grupo da França e da Alemanha – um “Grupo da Morte”, diz toda a imprensa especializada. Excessos de terror à parte, é como alguém uma vez disse: “Se queremos ser campeões, temos de eliminar os melhores.” Só temos de o começar a fazer um pouco mais cedo do que o previsto.

Em 2020, o Campeonato da Europa celebra 60 anos com uma particularidade: não terá um país anfitrião (ou dupla de países). Os jogos serão disputados em 12 estádios diferentes, noutros tantos países, num modelo organizacional só possível numa Europa livre de barreiras. Vamos esperar que os adeptos do desporto-rei percebam esta questão.

E quais serão as reais possibilidades de Portugal? Para isso temos de recorrer ao futebolês e afirmar: “Prognósticos só no fim do jogo!”

9 Tall Ships Race

De 2 a 5 de julho, os gigantes do mar estão de regresso a Portugal para mais uma edição da Tall Ships Race, que este ano tem a particularidade de começar em Lisboa, pelo que estes grandes veleiros de épocas passadas ficam por cá mais algum tempo. E podem ser visitados, até porque o objetivo é mesmo divulgar o mar, a vela e o treino de vela junto dos jovens de todo o mundo. E ver o Tejo repleto destes navios é um espetáculo magnífico.

10 Portugal acolhe conferência da ONU sobre os oceanos

Lisboa vai acolher a conferência da ONU sobre os oceanos para debater e enquadrar o “desenvolvimento sustentável que prevê a conservação e sustentabilidade do uso dos oceanos, mares e recursos marinhos para o desenvolvimento”. Para o nosso país é uma oportunidade única de se afirmar como um dos países na vanguarda desta exploração – nós, que tanto nos queixamos da pequenez quando temos uma extensão de território marítimo que nos coloca ao nível das superpotências mundiais...

11 O ano em que o clima vai mudar

Não nos interpretem mal, mas o clima, infelizmente, está a mudar há muito tempo, mas 2020 será o ano em que os poderes instituídos ouvem os apelos das Nações Unidas e da ciência e começam a cumprir com as metas estabelecidas nos mais variados acordos e tentando limitar a subida da temperatura a um grau e meio? Esperemos que sim.

12 Lisboa é a Capital Verde Europeia 2020

A cidade de Lisboa venceu o prémio de Capital Verde Europeia de 2020. A distinção é atribuída anualmente pela Comissão Europeia como reconhecimento pelos esforços das cidades na sustentabilidade ambiental, social e económica. No caso de Lisboa, foi salientado que essa aposta ocorreu num período de grave crise económica, demonstrando assim que a sustentabilidade e o crescimento económico podem estar associados e servir de modelo para outras cidades da União Europeia. A capital suplantou as cidades de Ghent, na Bélgica, e Lahti, na Finlândia, e tem prevista uma série de eventos a decorrer ao longo do ano, que pode consultar no site lisboagreencapital2020. A abertura ocorre oficialmente a 10 de janeiro, no Parque Eduardo VII, com uma festa no Pavilhão Carlos Lopes que contará com a presença do secretário-geral da ONU, do Presidente da República e do primeiro-ministro. No dia 11 será inaugurada uma exposição no Oceanário de Lisboa sobre o mar português e no dia seguinte serão plantadas 20 mil árvores pela cidade.

13 Acima dos 30 anos

Pela primeira vez na história do mundo, a idade média da população vai ultrapassar os 30 anos. Em Portugal, onde temos uma população bastante envelhecida, isso é uma realidade bem conhecida desde os anos 1980 (tal como para o grosso dos países da União Europeia), mas agora estamos a falar de um mundo inteiro com a África e a Ásia. Aliás, foi o envelhecimento da população na China e na Índia que mais contribuiu para alcançar este patamar.

14 O Instagram será chamado à realidade

O Instagram é visto, geralmente, como o parente bonito do Facebook. Sobretudo depois dos escândalos políticos e de privacidade que assolaram aquela rede social desde as eleições americanas de 2016. O Instagram tornou-se, então, a alternativa inocente e bonita, onde os influencers mostravam as suas vidas perfeitas em fotografias e vídeos perfeitos, e onde nas stories todos podiam relaxar e ser ainda mais intimistas, sabendo que os seus posts não ficariam para sempre no éter. Mas desde então os posts de texto no Instagram ganharam popularidade e os próprios serviços secretos norte-americanos revelaram como a influência da rede nas eleições de 2016 foi subvalorizada. Dizem também que os serviços de espionagem russos enveredaram pelo Instagram depois dos escândalos no Facebook, por este ser considerado um meio muito mais eficaz. Chegados a 2020 será necessário ter os mesmos cuidados com o Instagram do que com todas as outras redes sociais porque não há só “animal prints”, mas toda a espécie de animals.

15 Global Goal Live

Em 2020 vai realizar-se o maior concerto solidário da humanidade. Este sucessor do Live Aid tem data marcada para o dia 26 de setembro e, desta vez, promete chegar a cinco continentes: África, Ásia, Europa e as duas Américas. Já estão confirmados dezenas de nomes (e muitos mais se seguirão) para 10 horas de música ininterrupta, procurando angariar fundos para cumprir com os objetivos das Nações Unidas: erradicar a pobreza extrema e combater as alterações climáticas. Música para o bem.

16 Cinema dos anos 80

No cinema, 2020 não será apenas o ano em que estreia um novo filme de James Bond, o último com Daniel Craig no papel do agente secreto 007. O ano será também marcado por várias sequelas de filmes que fizeram furor nos anos 80 do século passado, a começar pelo filme que deixou mais adolescentes apaixonadas: Top Gun. E o mais curioso é Tom Cruise continuar a desempenhar o papel de Maverick e a pilotar como ninguém. Mais engraçado, ainda, deverá ser a sequela de Ghostbusters, onde o elenco original, com Bill Murray, Dan Aykroyd e Sigourney Weaver, continua a marcar presença, mas já substituídos por uma nova geração de caçadores de fantasmas.

17 Für Beethoven

Este ano celebramos o 250.º aniversário de um dos maiores génios criativos: Ludwig van Beethoven. Um ano de iniciativas a acontecer um pouco por todo o mundo, culminando em dezembro, em Bona, mês e cidade natal do músico.

18 Para o espaço e mais além!

2020 vai ser um ano de loucos para a exploração espacial com quatro diferentes missões a Marte, ainda não tripuladas: uma da NASA, outra europeia, da ESA e da Rússia, uma chinesa e uma dos Emiratos Árabes Unidos (EAU), para glória de Alá e em memória dos tempos em que a ciência árabe era a mais avançada do mundo. A missão dos EAU conta com a ajuda americana e vai ser lançada num foguetão japonês. China e ESA são repetentes nas tentativas, mas desta vez esperam montar uma missão sem falhas. A China nem saiu da órbitra terrestre, culpa do foguetão russo, e foi por isso que desta vez decidiu tratar de tudo: desde o lançamento ao robô de exploração. Foi o que falhou na anterior missão da ESA, que pretende provar a sua capacidade. Restam os EUA, já relativamente habituados ao sucesso, mas desta vez tentando algo diferente: um drone helicóptero que se funcionar na atmosfera rarefeita e tempestuosa de Marte será um feito. E deixará os eventuais marcianos a perguntarem-se sobre os objetivos daquele drone. Haja calma porque as missões são puramente científicas. Para já. A invasão segue dentro de momentos.

19 Quarto com vista

O próximo ano marca, também, o ano em que a NASA vai abrir as portas da Estação Espacial Internacional a astronautas privados em turismo. Os “turisnautas” terão de embarcar a bordo de uma das missões da agência norte-americana e levar a carteira bem recheada porque os preços são estratosféricos (literalmente): 35 mil dólares por noite. Mas dizem que as vistas são muito bonitas.

20 Carros voadores, finalmente!

A ideia existe há décadas e já foram prometidos tantas vezes que começávamos a duvidar que alguma vez pudessem existir. Parece que é desta feita, provavelmente graças aos avanços em baterias e motores elétricos que já permitem levar duas pessoas por alguns quilómetros de distância. Assim, as primeiras propostas comerciais chegam este ano com a Opener, empresa de Silicon Valley, que apresenta o Blackfly, um veículo saído diretamente das páginas da BD de Moebius, mas capaz de descolar e aterrar verticalmente e levar uma pessoa por 50 a 100 km à hora. Outra empresa será a chinesa Ehang com uma espécie de drone tripulado que pode levar duas pessoas, mas que necessita de vertiports, uma espécie de heliportos para operar. O mesmo princípio da alemã Volocopter, que já tem um serviço montado em Singapura. E a Toyota já disponibilizou um PAV (Personal Aerial Vehicle) seu para transportar a tocha olímpica na cerimónia de abertura no Estádio de Tóquio.

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2019-12-12T08:00:00.0000000Z

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