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Editorial de Manuel Dias Coelho

Há uns bons anos, um ou outro pensador garantiam que não existe essa “coisa” da ficção científica. E justificavam-se de acordo com estes pressupostos: se é ficção pertence ao domínio da fantasia e se é ciência é propriedade da investigação e, por isso, do que é comprovado. Mas, mais recentemente, outros pensadores defenderam que existe uma codependência entre a ciência e a dita ficção científica. A razão, segundo os mesmos, é que esta última contribuiu para abrir a imaginação de cientistas e de especialistas na tecnologia, enquanto jovens, inspirando-os no sentido de investigarem as possibilidades da ciência futura, levando-os a descobrir mais e mais, enquanto estudiosos. E os escritores e autores (nomeadamente de filmes e de banda desenhada) são, por sua vez, inspirados pelas enormes possibilidades da ciência no futuro. A criatividade da ficção científica atrai tanto os pesquisadores da ciência e os inovadores das tecnologias como o público em geral, nomeadamente o masculino. Se nos recordarmos que, em 1902, Georges Méliès realizou o filme, ainda sem som e a preto e branco, intitulado Le Voyage Dans la Lune, entenderemos como, a partir daí, o cinema e a realidade se têm fundido. Monsieur Méliès, inspirado nas obras de Jules Verne e de Herbert George Wells, vulgo H.G. Wells, filmou aquela que é tida como a primeira película de ficção científica, na qual um foguetão, com o formato de uma bala gigante, é expelido por um enorme canhão em direção à Lua, nela aterrando e tendo os astronautas encontrado os primeiros extraterrestres. Veja-se a similitude do formato dos foguetões reais e a forma como foram arremessados ao espaço sideral, designadamente o míssil V2, lançado pela Alemanha, em 1942, e os foguetões russos e americanos, entre as décadas de 1950 e de 1970. A partir do pós-guerra, a imaginação dos norte-americanos explodiu no referente à criatividade em filmes em torno da tal ficção científica. Entre estes, o que mais me surpreendeu foi o primeiro filme da saga da Guerra das Estrelas que estreou em Portugal, com muito sucesso, no dia 6 de dezembro de 1977, no então cinema Monumental, em Lisboa. Como acontecia naquele tempo, o filme foi visto, entre nós, com sete meses de diferença em relação à estreia, a 25 de maio de 1977, nos EUA. Faz parte da lenda que, nessa altura, George Lucas decidiu viajar até ao Hawai para não ter de enfrentar o que esperava vir a ser o fiasco da sua obra. Mas, como se sabe, o êxito foi estrondoso, ultrapassando em receita de bilheteira o filme Tubarão, de Steven Spielberg, de 1975. O filme de Lucas só seria ultrapassado, cinco anos depois, por E.T., de Spielberg. Eu fiquei de tal modo fascinado que vi, várias vezes, no Monumental e em cinemas de reprise da capital, o Star Wars: Episódio IV – A Guerra das Estrelas e, já então, estava extasiado por, na era pré-computorização, saber que tudo era feito com maquetas. Hoje, através dos computadores, até se conseguiu ressuscitar digitalmente Carrie Fisher na cena final de Star Wars: Episódio VIII – Os Útlimos Jedi, há dois anos. Por eu ser um fã da saga, incluindo dos piores dos seus filmes, é que neste número da Must se publica uma entrevista com o ator, em franca ascensão, John Boyega, o primeiro stormtrooper negro desses filmes, e um divertido artigo acerca dos altos e dos baixos da dezena de filmes, desde 1977. Fazemo-lo, não apenas porque o filme tem estreia mundial marcada para 19 de dezembro próximo (e Portugal já não tem de aguardar meses para o poder ver…), mas porque esta Must é dedicada ao futuro, como poderão comprovar nas páginas que se seguem. E se na ficção científica a Humanidade tem sido, repetida e cansativamente, dominada por supercomputadores e por robôs, isto na criatividade delirantemente catastrófica dos norte-americanos, como sempre, essa repressão gerada pela inteligência artificial não fará parte da realidade (esperamos nós), na opinião do Professor Stuart Russell, da Universidade de Berkley, expressa no artigo aqui também publicado. Com um pé no presente, resta-me desejar-lhe uma boa leitura e um excelente 2020, cujo futuro já se anuncia.

Manuel Dias Coelho

CONTEÚDO

pt-pt

2019-12-12T08:00:00.0000000Z

2019-12-12T08:00:00.0000000Z

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