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Triste em Todo o Lado ao Mesmo Tempo Feliz

EDSON ATHAYDE Publicitário e Storyteller edson.athayde@fcb.com Coluna quinzenal à sexta-feira

2023 será um dia lembrado como ano em que você foi obrigado a dizer se gostou ou não de “Tudo em Todo Lado ao Mesmo Tempo” (mesmo sem ter sequer se dado ao trabalho de o assistir).

De tanto ler sobre o tema, hesitei em dar uma chance à obra. O sucesso na noite dos Óscares também não ajudou muito. O ruído ficou ensurdecedor: mais gente a comentar, mais gente a falar mal, mais gente a dizer que a longa era genial, porém difícil.

“Difícil” é tudo o que eu não preciso de um filme neste momento (de resto, quem é que está com cabeça para entretenimento complexo?).

Com um certo sentido de missão, afinal, estudo storytelling, abri espaço na minha vida e deixei “Tudo em Todo Lado” entrar. E não me arrependi.

Longe de ser um naco de cinema que mudou a minha vida, também não é um objeto ao qual saí indiferente. “Tudo em Todo Lugar” consegue arranhar a nossa alma, sem ser agressivo, sem ser hermético ou complexo como alguns defendem.

Para quem gosta um pouco de filosofia, o filme mostra uma guerra entre uma visão niilista da vida e outra que propõe uma solução otimista: há salvação possível. Ela, a salvação, a nossa salvação, a salvação da humanidade, até é um quase milagre, no sentido de desafiar a lei das probabilidades, mas pode acontecer.

Frases que retive entre os diálogos da longa: “Cada nova descoberta é uma lembrança de que somos todos pequenos e estúpidos”; “A única coisa que sei é que temos de ser gentis. Por favor, sejamos gentis. Especialmente quando não sabemos o que está a acontecer”; “Você não é impossível de ser amado. Sempre há algo para amarmos no outro. Mesmo em um universo estúpido, onde tenhamos salsichas como dedos, poderemos fazer coisas boas com os pés”; “Quando escolho ver o lado bom, não estou a ser ingénuo. É algo estratégico e necessário. Foi assim que aprendi a sobreviver”.

O que vemos no ecrã é a saga de um grupo de personagens que não vivem as vidas que sonharam e que (não chega a ser um spoiler) vão descobrir que vivem as melhores vidas possíveis, pois estas são as vidas de agora, são as vidas que importam, são as vidas que podemos modificar ou, melhor ainda, reinterpretá-las apenas por, quase sem esforço real, apenas por deixar a energia certa fluir e permitir que a ocitocina (a hormona da empatia) leve a melhor sobre o cortisol (a hormona da ansiedade).

Ou como diria o meu Tio Olavo, a cantar Vinicius de Moraes à saída da sala de cinema: “É melhor ser alegre que ser triste / Alegria é a melhor coisa que existe / É assim como a luz no coração / Mas pra fazer um samba com beleza / É preciso um bocado de tristeza / preciso um bocado de tristeza / Senão, não se faz um samba não”.

O que vemos no ecrã é a saga de um grupo de personagens que não vivem as vidas que sonharam.

“Tudo em Todo Lugar” consegue arranhar a nossa alma, sem ser agressivo.

OPINIÃO

pt-pt

2023-03-24T07:00:00.0000000Z

2023-03-24T07:00:00.0000000Z

http://quiosque.medialivre.pt/article/282256669742676

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