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Gestora do JP Morgan entra em modo “stress”

LEONOR MATEUS FERREIRA, EM LONDRES * leonorferreira@negocios.pt *A jornalista viajou a convite da JP Morgan AM

O risco cria oportunidades, que é preciso aproveitar no momento de forte volatilidade nos mercados globais. A convicção é da JP Morgan AM, que espera que 2023 seja marcado pelo regresso dos retornos nas obrigações, bem como pelo contínuo combate à inflação pelos maiores bancos centrais.

Avolatilidade nos mercados financeiros veio para ficar e o foco volta-se para criar oportunidades de investimento no meio das dificuldades. George Gatch, CEO da JP Morgan Asset Management (AM), explica que a gestora de ativos está a trabalhar em modo de “stress” para acelerar a avaliação do risco e ajustar-se à rápida evolução do mercado.

“Estamos num momento sem precedente no tempo com grande impacto para os mercados financeiros. Pode haver implicações de que não temos conhecimento”, afirmou George Gatch, no encontro anual com jornalistas em Londres da JP Morgan AM, que é responsável pela gestão de 2,5 biliões de dólares em ativos.

A mais rápida subida de sempre nas taxas de juro dos bancos centrais globais – para travar uma inflação que não se via desde os anos 1970 – causou um drástico ajustamento nos preços tanto de ações como de obrigações. Após 2022 ter sido um ano negativo para as duas principais classes de ativos, o arranque de 2023 está a ser marcado por nova turbulência ligada ao setor financeiro.

Neste cenário, a JP Morgan AM passou as avaliações semanais dos protocolos de risco para diárias, a mesma regularidade com que reúnem com “traders”, especialistas em avaliações, analistas ou clientes. “Gerimos 22 milhões de posições”, sublinhou o CEO. “Não é uma questão de eliminar risco, mas de o gerir. O risco também cria oportunidades”, referiu.

Melhor expectativa de retorno numa década

Entre as oportunidades que a gestora de ativos vê estão as obrigações, de regresso face ao cenário de subida das taxas de referência, em ações de empresas que beneficiem do novo ambiente de juros altos, bem como em ativos alternativos como forma de diversificação da carteira de investimentos.

Numa carteira clássica 60/40 (composta em 60% por ações e 40% por obrigações), a projeção da gestora para o retorno este ano é de 5,1% – a melhor numa década. Acrescentar 10% do capital a “private equity” e outros 10% a imobiliário, pode impulsionar o retorno ajustado ao risco em 10%, de acor

do com as estimativas. Apesar do otimismo, os especialistas sublinham que há muita incerteza.

As últimas duas semanas têm sido de ebulição nos mercados com as fragilidades da banca regional nos Estados Unidos a resultar na queda de dois bancos – Silicon Valley Bank e Silvergate Bank -Temos uma economia anémica e um Estado assistencialista –(e um terceiro, o First Republic Bank, em risco), enquanto na Europa a crise reputacional do Credit Suisse resultou na venda ao UBS por menos de metade do valor de mercado do banco.

“A primeira característica em comum entre o SVB e o Credit Suisse foi que se tratou de uma crise de confiança. A segunda foram os fluxos de capital, que é uma consequência da crise de confiança”, avançou Myles Bradshaw, líder de estratégias agregadas globais da gestora, no mesmo evento. “Não estamos a ver uma crise confiança no sistema” ou contágio interbancário, garantiu, apontando a rapidez dos bancos centrais em atuar para restaurar a confiança no mercado. “A maior história aqui não é a crise bancária. A maior história é que as taxas de juro começam a ter efeitos nos bancos”, acrescentou Myles Bradshaw.

Da mesma forma, a líder para a Europa da estratégia de mercado da JP Morgan AM, Karen Ward, sublinhou a sensação de calma que regressou ao sistema financeiro, apesar da incerteza. “Não sabemos o que vai acontecer. Não sabemos como é que os bancos vão reagir”, disse.

EUA já passaram pico da inflação, Zona Euro não

A líder para a Europa da estratégia de mercado desvalorizou, contudo, o risco de uma situação semelhante à de 2008 não só porque o setor financeiro está mais robusto, mas também porque a situação macroeconómica é diferente. “O que me parece claro é que haverá, nos EUA, impacto nos comportamentos de concessão de crédito”, refere Karen Ward, lembrando que esse até era o objetivo dos bancos centrais ao subirem juros para arrefecer a escalada dos preços.

A JP Morgan AM considera que o pico de inflação já foi atingido nos Estados Unidos - onde antecipa uma “modesta” recessão –, enquanto na Zona Euro ainda há aconteceu. E em ambas as regiões, “a era da inflação estável e baixa acabou”, garante Karen Ward.

Sobre uma comparação com os anos 1970, John Bilton, líder de estratégia global multi-ativos aponta para o impulso na produtividade que diferencia o mercado de trabalho de agora e de então. “Os anos 2020 serão uma década de inflação, tensão e volatilidade, mas estes são sintomas. Temos de olhar para as causas”, refere. E prefere por isso olhar para outros pontos.

À rápida globalização de 2000 seguiu-se um movimento contrário, mas não em todos os domínios. A troca internacional de serviços cresceu a um ritmo duas vezes mais rápido do que os bens e o especialista antecipa que a tendência se mantenha. “É isso que irá ditar onde vão os anos 2020”, antevê.

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2023-03-24T07:00:00.0000000Z

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