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Burocracia trava investimento de 10 milhões em Guimarães

RUI NEVES ruineves@negocios.pt

A rebentar pelas costuras, o grupo vimaranense de calçado de segurança AMF, que anda há vários anos a tentar construir uma nova fábrica na terra natal, onde “é inviável comprar terrenos industriais” e até desperdiçou um milhão de euros na compra de uma localização sem viabilidade, procura alternativas fora da cidade berço.

Em 1999, Albano Miguel Fernandes cozeu as iniciais do seu nome para se tornar empresário de calçado. Meia dúzia de anos depois, passou a partilhar a meias o capital da AMF com Domingos Almeida, seu amigo de infância. Hoje, esta empresa de calçado de segurança, sediada em Guimarães, emprega 155 pessoas e fechou 2022 com uma faturação de 17,2 milhões de euros, mais quase meio milhão do que no ano anterior, com as vendas da marca própria Toworkfor a representar 54% e as exportações a valerem 85% do total.

Entretanto, a vilacondense Aloft, produtora de calçado injetado e de solas técnicas desde 2015, que é detida diretamente por Fernandes, Almeida e Pedro Castro, outro amigo de infância, vai acoplar uma nova unidade fabril. Um investimento estimado em 6,5 milhões de euros e cuja localização foi escolhida devido ao facto de a AMF não conseguir expandir-se devido à “escassez de terrenos industriais” na sua terra natal.

“Aliás, a aquisição da Aloft em 2015 foi consequência também das dificuldades de a AMF poder crescer em Guimarães, para onde estavam inicialmente previstos os investimentos que estamos a fazer em Vila do Conde”, afirmou Albano Miguel Fernandes, em declarações ao Negócios.

A rebentar pelas costuras nas instalações centrais, a AMF pas

ALBANO MIGUEL FERNANDES CEO da AMF Safety Shoes

“Compro terrenos industriais a 30 euros o m2 em Vila do Conde; em Guimarães pedem mais de 300.

sou os tempos de pandemia à procura de um terreno de 40 mil metros quadrados na cidade berço para construir uma nova unidade fabril, num investimento que, admite agora o CEO, “deverá ultrapassar os 10 milhões de euros”.

“Guimarães vai perder investimentos e empregos”

Inviabilizada a possibilidade de crescer junto ao edifício-sede, a AMF ainda chegou a comprar um terreno noutro local da cidade, “por cerca de um milhão de euros e que recebeu a aprovação da autarquia para a construção da fábrica, mas que foi rejeitado a nível central”. Este ativo constitui agora um peso morto no balanço da fabricante de calçado.

“A inexistência de terrenos em Guimarães a um preço comercialmente aceitável para a laboração industrial torna mais difícil encontrar uma solução”, lamentou o empresário. “Estamos sujeitos a uma especulação imobiliária surreal e estúpida em Guimarães”, acusou, atirando que, “enquanto em Vila do Conde consigo comprar terrenos a 20 ou 30 euros o metro quadrado, aqui estão a pedir mais de 300 euros”.

E agora? Comprometendo-se a não levantar a âncora de Guimarães – “não é expectável que saia, não faz sentido tirar daqui 155 pessoas” –, Albano Miguel Fernandes meteu o turbo na procura de soluções fora do concelho. “E já perdi o ‘timing’ para a construção, neste momento procuro a aquisição de edifícios que possa transformar para a nossa indústria”, sinalizou. A decisão deverá ser tomada “nos próximos três meses”.

De resto, deixou uma certeza em forma de alerta à comunidade vimaranense: “Não haverá mais investimento em Guimarães, que vai perder investimentos e postos de trabalho.” ■

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2023-03-24T07:00:00.0000000Z

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