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Irmandade da carne

As irmãs Ana Luísa, Margarida, Maria Inês e Maria João herdaram o talho do pai, José Pedro Cartaxo, em 2014. Apesar de estarem todas na sociedade, apenas Margarida e Inês trabalhavam no negócio. Maria João tinha um espaço de massagens de recuperação e a mais velha, Ana Luísa, trabalhava em Lisboa numa galeria de arte e numa livraria. Hoje, estão as quatro na aldeia de Ponte do Rol, Torres Vedras, no Talho das Manas, o primeiro a ser certificado pela Associação Portuguesa de Celíacos. Ana Luísa mais ligada à gestão, enquanto as restantes irmãs estão nas áreas da produção e comercial.

Ana explica que os sinais de saúde em 2016 a alertaram para a necessidade de uma mudança nos hábitos alimentares. Margarida e Inês já estavam diagnosticadas anteriormente com doença autoimune e a condição de celíacas, mas Ana e Maria João acabariam por confirmar o mesmo problema. A empresária pensou no que todas poderiam fazer para melhorar a condição física e começaram a fazer alguns preparados, “já com cuidados, sem glúten e sem aditivos sintéticos para reduzir o impacto”.

Quando regressou em 2017 a Ponte do Rol, Ana Luísa conta que as irmãs tomaram a decisão de assumir as alterações que tinham introduzido para elas mesmas, integrando-as na oferta do talho. A empresária explica que uma das clientes, médica hematologista e responsável por diagnósticos da doença celíaca, insistiu na importância da certificação ‘sem glúten’ atribuída pela Associação Portuguesa de Celíacos, “porque o número de pessoas com o diagnóstico de intolerâncias alimentares crescia diariamente”. O Talho das Manas obteve a certificação nos anos 2018/2019, que tem vindo a renovar ano após ano e, atualmente, tem em curso a certificação biológica, uma vez que trabalha cada vez mais com produtos e produtores certificados. Ana Luísa recorda que o pai, que toda a vida foi produtor de gado, “era verdadeiramente obcecado com a criação e nutrição dos seus animais, sobretudo as ovelhas, mas também com tudo o que comprava para consumo”. A empresária lembra que a pandemia, em 2020, a fez refletir ainda mais sobre de que forma poderia contribuir para um futuro melhor. Não acredita que “a solução dos problemas ambientais esteja na mudança do tipo de alimentação de forma cega, de uma dieta carnívora para uma dieta vegana”, mas antes na redução do consumo carne, “tal como a roupa e tantas outras coisas”. Ana Luísa acrescenta que “não são os animais e a a g r i c ul t ur a , mas os modos de produção que devem ser repensados”. O que a levou a atuar, “apoiando produtores que defendem os mesmos princípios, que promovem uma produção em colaboração com a natureza e não contra ela, potenciando a sua ação”. Hoje, o Talho das Manas representa projetos de maneio regenerativo em Portugal com vários produtores e trabalha com as três raças autóctones de porco. Ana conclui que os seus clientes “valorizam a origem do produto, alguns portadores de intolerâncias alimentares, consomem carne proveniente de maneio regenerativo ou, de uma forma geral, têm consciência de que escolhem o melhor”.

ANA LUÍSA NÃO ACREDITA QUE “A SOLUÇÃO DOS PROBLEMAS AMBIENTAIS ESTEJA NA MUDANÇA DO TIPO DE ALIMENTAÇÃO DE FORMA CEGA, DE UMA DIETA CARNÍVORA PARA UMA DIETA VEGANA”, MAS ANTES NA REDUÇÃO DO CONSUMO CARNE.

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2023-03-24T07:00:00.0000000Z

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