Cofina

Lavo as minhas mãos desta crónica que até mete um urso

Há muita coisa que muda o mundo. O pacote da habitação de António Costa, as intervenções públicas de Cavaco Silva, as declarações de Bruno de Carvalho e da sua esposa Liliana e até André Ventura a querer passar por político sério. Há, todavia, outras que ficam como exemplo para a sociedade. Como esta confissão de Cláudio Ramos, durante o programa da manhã da TVI, após ter ido à casa de banho satisfazer uma necessidade fisiológica de natureza líquida. “…Mas não lavei as mãos, mas também nunca lavo, vou já dizer! Sou sincero, porque mexer na maçaneta da porta e na torneira, a minha pilinha é mais limpinha do que a torneira de um sítio público”, afirmou o apresentador. Perante o espanto da sua “partner”, Cristina Ferreira, Cláudio quis saber se ela higienizava as mãos após fazer chichi. “Não! Nós estamos aqui para dizer a verdade”, confessou Cristina Ferreira. Feito o inquérito, Cláudio Ramos concluiu: “Claro… é que ninguém lava, isso é mentira das pessoas.”

A confissão de Cláudio Ramos tem o mérito de fazer perceber muito do que se passa nas redes sociais. As pessoas que as frequentam não lavam as mãos e depois contaminam o espaço público com bactérias de alarvidades e bacilos de ódio e a coisa torna-se contagiante. Aliás, é muito mais fácil ser imbecil do que refletir sobre um tema e tentar manter a ponderação. Mas tudo isto é óbvio, e, obviamente, carece de interesse.

O que realmente importa é a determinação revelada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE). João Gomes Cravinho assegura que Portugal cumprirá o mandado de captura do Presidente da Rússia que foi emitido pelo Tribunal Penal Internacional, e procederá à detenção de Vladimir Putin se por qualquer motivo o líder russo entrar no país. Ficamos todos mais tranquilos com esta promessa, até Cavaco Silva, que em 2007, na sua qualidade de Presidente da República, recebeu Vladimir Putin em Portugal e discursou nos seguintes termos: “Separados pela distância que a geografia impõe, delimitando os confins de um continente que partilham, os nossos países mantêm contactos de muitos séculos.”

Igualmente sábio foi o então primeiro-ministro, José Sócrates, que ofereceu a Putin um GPS totalmente desenvolvido em Portugal, considerando tratar-se de um instrumento útil para evitar desencontros. Tão útil, que Putin nunca mais voltou, só para se safar dos ditos, e, quiçá, usou o GPS ofertado para invadir a Ucrânia, o que não abonaria nada a favor de tecnologia nacional. Resumindo. Ainda bem que João Gomes Cravinho é firme. Eu sinto-me muito mais protegido. E você? Para melhorar a coisa só falta mesmo o nosso intrépido MNE fazer como aquela família chinesa que adotou o que pensava ser um cão da raça mastim tibetana e dois anos depois descobriu que, afinal, o cão era um urso. Em termos de segurança ficaríamos reforçados, compensando as fragilidades demonstradas pela Marinha. Não temos o navio Mondego para vigiar os russos, mas, em contrapartida contaríamos com um urso que tanto poderia ser usado em terra como no mar.

Esta semana ficou igualmente marcada pela reaproximação de Bruno de Carvalho e Liliana Almeida, com esta a revelar que o seu marido tem sofrido de privação do sono, embora determinadas más-línguas lhe deem outros nomes que a sobriedade narrativa me impede de enunciar. “Está a cuidar dele. Quando uma pessoa tem privação de sono, às vezes, não consegue lidar com o dia a dia”, explicou Liliana. Já Bruno de Carvalho exortou os seguidores de ambos a assumirem coisas. “Nunca tenham medo ou vergonha de assumirem as vossas coisas. A vida é mesmo assim, nem sempre é um mar de rosas, não é sempre perfeita como queremos. Claro que eu e a Liliana queremos estar sempre perfeitos, mas nem sempre conseguimos.”

Entre isto e o ziguezaguear de António Costa em matéria de IVA é só escolher. Ambos são alimentos para o assombro e factos suscetíveis de confirmarem a tese segundo a qual aquilo que não é verdade hoje pode ser amanhã. Afinal, piscando o olho aos intelectuais encartados, são histórias como esta que nos fazem lembrar Gonzalo Torrente Ballester e o seu célebre livro “Crónica do rei Pasmado”, no qual o rei D. Filipe IV após passar uma noite com uma prostituta, fica encantado com o corpo feminino e mostra o desejo de ver a sua esposa nua. Não consegue encontrar nexo nesta comparação? Não se apoquente que eu também não, mas fica sempre bem terminar uma crónica com uma nota literária.

Tenha um bom fim de semana.

WEEKEND

pt-pt

2023-03-24T07:00:00.0000000Z

2023-03-24T07:00:00.0000000Z

http://quiosque.medialivre.pt/article/281805698176596

Cofina