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ARMANDO E. PEREIRA

Temos uma economia anémica e um Estado assistencialista

Portugal é um pobre país peculiar com o Estado omnipresente e que domina tudo. Fala-se muito na necessidade de crescimento económico, de competitividade, mas na prática o sistema depende dos subsídios, das rendas e das esmolas públicas.

A julgar pela previsão divulgada pelo Conselho de Finanças públicas, a evolução do PIB para os próximos anos é mesmo de passo de caracol, de 1,2% este ano até 2% em 2025 para voltar a 1,7% em 2026 e 2027. Ou seja o primeiro quartel do século XXI será de anemia económica pura, com ritmos miseráveis. Mesmo o brilharete de 2022, que é a exceção da série, não passa de uma recuperação quase mecânica face ao apagão provocado pela pandemia.

Seria natural que esta longa estagnação, que verdadeiramente é um processo de empobrecimento de longo prazo, se traduzisse em grande instabilidade social. Há sinais de descontentamento, greves e manifestações, mas principalmente de quem trabalha para a Função Pública. E com mais ou menos dificuldades, o governo enfrenta as pressões com mais alguma distribuição do escasso dinheiro dos contribuintes.

Temos uma economia anémica e um Estado assistencialista. Na habitação para fazer face à subida dos juros, o Estado vai ajudar as famílias com crédito, incluídas até ao sexto escalão do IRS, com um subsídio mensal até 60 euros, o que significa 720 euros por ano.

Qualquer contrato à habitação realizado durante o período dos juros muito baixos, deveria prever, quer da parte dos bancos, como da parte dos clientes, que na vigência relativamente longa de um empréstimo para a casa, a taxa de juro pudesse chegar aos 5%. A subida do preço do dinheiro foi abrupta no último ano, mas não era inimaginável. Tem de haver política social e de emergência, mas desresponsabilizar cidadãos e bancos pelos contratos que fazem, não é o melhor exemplo.

No fundo este país pobre ainda precisa dos novos derivados da sopa dos pobres, mesmo quando teoricamente os beneficiários já deveriam ser de classe média.

Sidónio Pais teve um curto consulado na presidência da República. Iniciou funções em maio de 1918 e acabaria assassinado na estação do Rossio, em Lisboa, por José Júlio Costa, a 14 de dezembro desse ano. Mas o seu curto magistério deixou marca e um século depois da sua morte ainda há quem lembre da “Sopa do Sidónio”, a sopa dos pobres que instituiu para alimentar a população famélica, num tempo em que a pobreza que existia em Portugal era indescritível.

Já estamos longe dessa miséria, mas o espírito assistencialista continua a ser o mesmo. Um país dependente do Estado que faz pouco para sair o ciclo vicioso da pobreza e deixa os seus cidadãos dependentes da eterna “Sopa do Sidónio”.

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2023-03-24T07:00:00.0000000Z

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