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Na Zona Euro, margens sobem duas vezes mais que salários

Dados atualizados pelo BCE confirmam que as margens de lucro cresceram 10% em 2022, enquanto a subida dos salários ficou pelos 5%. Lagarde pede maior partilha dos custos da inflação.

SUSANA PAULA

As margens de lucro das empresas cresceram cerca de duas vezes mais do que os salários na Zona Euro em 2022, sendo o principal motor de subida de preços nos países da moeda única, insiste o Banco Central Europeu (BCE).

Desde o início de março que o BCE tem mostrado preocupação perante o papel que o aumento das margens de lucro tem tido na subida de preços. Primeiro, os governadores dos 20 países do euro foram confrontados com dados que mostravam que, em 2022, e ao contrário do que se previa, estavam a ser as empresas, e não os trabalhadores, a puxar pela inflação. Depois, numa palestra na Irlanda, Philip Lane, o economista-chefe do BCE, apresentou dados até ao terceiro trimestre nesse sentido, concluindo que “muitas empresas foram capazes de aumentar”, ou manter praticamente inalteradas, as suas margens de lucro, apesar de operarem em setores que “enfrentam problemas de oferta” – o que não era, de todo, expectável.

Agora, o BCE atualizou esses números até ao fim do ano. Entre o primeiro e o último trimestre de 2022, as margens de lucro no total da economia da Zona Euro cresceram cerca de 10%, enquanto os salários aumentaram perto de 5%. A conclusão é semelhante na generalidade dos setores (as exceções são a Administração Pública e o setor da informática e comunicações). E isso é particularmente visível nos setores da agricultura, da indústria e do comércio e turismo, com crescimentos em torno dos 20%. Nestes setores, os salários cresceram quatro vezes menos.

Outra conclusão é que houve uma mudança de tendência em 2022. Ou seja, entre o primeiro trimestre de 2019 e o final de 2021, quando a inflação começou a subir (o salto mais acentuado dá-se após a invasão da Ucrânia) os salários estavam a crescer (um pouco mais) do que os lucros, cerca de 5%.

BCE pede contenção a empresas

Na semana passada, foi a própria presidente do BCE a entrar, pela primeira vez, no debate das margens versus salários. Desde então, e nas suas intervenções públicas, Christine Lagarde tem-se mostrado preocupada com “os efeitos de segunda ordem” da subida das margens na inflação. Ou seja, como podem estar a pressionar as expectativas de preços, dificultando a missão do BCE de baixar a inflação para 2% no médio prazo.

Por isso, e assumindo que os salários foram mais penalizados (os dados apontam para uma contração em termos reais), Lagarde pediu “uma partilha de custos adequada” entre capital e trabalho.

Ainda assim, o BCE admite que, este ano, a subida dos salários acelere, pressionando mais os preços do que até aqui. No entanto, o peso que isso tem nas expectativas de inflação vai depender também das empresas, frisou a responsável. “Se quer os trabalhadores quer as empresas aceitarem uma partilha justa dos custos [da inflação], e se um crescimento forte dos salários representar apenas um reequilíbrio entre trabalho e capital, então tanto as pressões de salários como de preços devem diminuir”, disse Lagarde.

Pelo contrário, “se os dois lados tentarem minimizar perdas, podemos assistir a um efeito de ricochete entre maiores margens de lucro, salários e [finalmente] preços”, avisou.

PRIMEIRA LINHA ÉPOCA DE RESULTADOS ANUAIS

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2023-03-24T07:00:00.0000000Z

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http://quiosque.medialivre.pt/article/281646784386644

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