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Elite da bolsa sobe dividendos para ser mais competitiva

MARIANA FERREIRA AZEVEDO marianaazevedo@negocios.pt

Lucros quase duplicaram em 2022

Os resultados líquidos das empresas do índice de referência nacional subiram para 4,7 mil milhões de euros, à boleia do aumento dos preços e da reabertura da economia. A energia foi o setor que mais lucrou neste panorama, com a Galp a reforçar 424 milhões de euros de 2021 para o ano passado.

As pressões inflacionistas agravadas pela guerra na Ucrânia ajudaram a propiciar o aumento dos lucros das empresas da bolsa de Lisboa. Em 2022, as cotadas do PSI avançaram 1,2 mil milhões (46%) para 4,7 mil milhões de euros, dos quais mais de metade pertence à Galp, EDP e EDP Renováveis.

Os lucros avultados explicam-se pelo ano passado ter sido “anormalmente bom” e 2021 ter sido o oposto, segundo o analista de ações António Seladas. “A principal justificação é o efeito-base, de acordo com o ‘consensus’ o ano 2021 é anormalmente mau em termos de resultados de empresas cotadas, de facto é o pior ano numa série longa. Por outro lado, 2022 é um ano anormalmente bom em termos de crescimento. O PIB nominal, em 2022, cresceu 11,5%”, diz o fundador da AS Independent Research.

Mas porque é que 2022 foi um ano anormalmente bom? Segundo o analista de “research” do Bankinter, Pedro Ribeiro, uma das razões prende-se com a reabertura da economia, após um período de confinamentos. “A normalização da atividade no pós-pandemia libertou na economia grandes quantidades de procura reprimida que permitiram às empresas com capacidade de produção – apesar dos constrangimentos causados pela guerra [na Ucrânia] – aumentar o seu volume de vendas”, aponta.

Além disso, o aumento dos preços também ajudou. “Com a escalada da inflação, as empresas capazes de passar o aumento dos preços das matérias-primas (ou pelo menos de uma parte) para os seus clientes viram os lucros impulsionados pelo subida do preço dos seus produtos”, explica Pedro Ribeiro.

Neste cenário, “a energia poderá ter sido o que observou maior crescimento devido aos valores de atividade económica e empresarial”, arrisca João Queiroz, responsável por “trading” no Banco Carregosa. O mesmo considera António Seladas, acrescentando que se deveu “à evolução dos preços de algumas ‘commodities’ nos mercados internacionais”.

A Galp foi certamente a cotada do PSI que mais lucrou com este cenário. Em 2021, a petrolífera recuperou dos prejuízos re

gistados em 2020 – obtendo um resultado líquido ajustado de 457 milhões de euros – com o impacto da pandemia que afetou a procura por combustíveis e fez o preço dos produtos petrolíferos diminuir, mas foi em 2022 que atingiu o auge. O resultado líquido bateu recordes em 2022, avançando 424 milhões de euros para 881 milhões.

Mas não foi a única do setor energético a destacar-se. A família EDP também teve um 2022 lucrativo. Enquanto a casa-mãe EDP registou o segundo maior lucro do PSI, obtendo 679 milhões de euros , o braço renovável ficou em terceiro com 616 milhões de euros.

Ainda na energia, a Greenvolt aumentou o lucro em 116% para 17 milhões – sendo esta a segunda maior variação percentual, apenas atrás da Navigator. O resultado da papeleira cresceu 129% para 393 milhões.

O bom desempenho das empresas ligadas à energia pode, no entanto, vir a desmoronar-se em 2023, uma vez que este “tipo de desempenho é volátil”, avisou o analista António Seladas, acrescentando que estima uma reversão parcial este ano.

João Queiroz discorda, dizendo que os resultados das energéticas vão continuar de vento em popa “mesmo que em algumas geografias ou segmentos de negócio se estagne ou mesmo contraia”. Isto porque tem havido um “forte investimento na transição energética, na continuada eletrificação da economia baseada em energias renováveis e na internacionalização, o que poderá continuar a permitir manter níveis interessantes de receitas e rentabilidade global”, refere João Queiroz.

Já no retalho – outro setor de peso no índice – a Jerónimo Martins também ficou acima da marca dos 500 milhões de euros, registando um lucro líquido de 590 milhões, o que traduz um aumento de 27,5% face a 2021. A concorrente Sonae subiu o lucro em 28% para 342 milhões.

A única empresa que ainda não divulgou as suas contas foi a Ibersol (que entrou no índice de referência nacional a 14 de março), tendo previsto fazê-lo a 26 de abril 2023.

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2023-03-24T07:00:00.0000000Z

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