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Imbrochável

EDSON ATHAYDE Publicitário e Storyteller edson.athayde@fcb.com

Outrora, uma das piores pragas que poderíamos rogar contra uma figura pública era dizer que ela iria entrar para a lata de lixo da História (esta mesmo, com “H” maiúsculo).

Ou seja, por pior que fosse o caráter da dita personagem, por pior que fossem os seus atos, bastava referir que as crianças iriam aprender na escola o quão mau ela era para, no mínimo, alguns absurdos serem refreados.

Claro que isso não impediu Hitler, Mussolini ou Stalin de matarem milhões. Mas deve ter impedido uns outros tantos. Sim, a vaidade é uma característica mais fácil de encontrar nos homens do que a bondade.

A lixeira da memória coletiva só não se encontra mais cheia pela nossa incapacidade de lembrar de todos os malfeitos e de todos os malfeitores.

Mas a lata de lixo da História já não mete tanto medo assim. Muitos não ligam em como serão descritos nos livros do futuro até porque apostam que já ninguém lerá livros no futuro (ou mesmo que haverá algum futuro). A ignorância tornou-se num projeto multinacional muito bem-sucedido.

Em março de 2021, publiquei aqui neste meu espaço no Negócios uma crónica que servia de eco para textos de dois jornalistas brasileiros (Ruy Castro e Mariliz Pereira Jorge) que, à época, publicaram listas de termos negativos relacionados ao atual chefe de Estado daquele país (cujo nome recuso-me falar quanto mais escrever).

De “abominável” a “desqualificado”, a rábula tinha a ver com o medo de levar processos por associar o nome do coisa-ruim com o termo “genocida”.

Como as eleições brasileiras serão no próximo fim de semana, peço a licença para republicar aqui uma lista de expressões portuguesas (traduzidas para o português do Brasil) que parecem ter nascido só para definir o “excrementíssimo” governante. Trata-se de um serviço público; os brasileiros já não têm palavras para ofender o: “Batoteiro (pilantra). Cacóstomo (sujeito que tem vícios de pronunciação e/ou mau hálito). Enxacoco (quem fala mal uma língua estrangeira). Achavascado (mal-educado).

Xoné (doido). Fardola (quem vive a contar vantagens sobre si próprio). Mânfio (mafioso). Gárrulo (tagarela). Matrafão (desleixado). Palrador (incontinente verbal). Abantesma (imbecil). Badameco (estúpido). Calhau ( burro). Abarbatado (ladrão).

Labrego (simplório). Sendeiro (asno). Camelo (idiota). Borrego (o mesmo que camelo). Abiscoitado (sem juízo). Marado dos cornos (maluco). Abrenúncio (capeta). Analfabesta ( grosseiro). Matumbo (casca grossa). Calão (folgado). Burgesso ( boçal).

Coscuvilheiro (intriguista). Chulo (putanheiro). Aldrabão (trapaceiro). Fajardo ( gatuno). Alarve (rude). Flaino (preguiçoso). Mandrião (vadio). Vida airada (desocupado). Rasca (de má qualidade). Anzoneiro (fofoqueiro). Armado ao pingarelho (arrogante). Atamancado (sem preparo). Badalhoco (torpe). Encaralhado (culpado).

Javardo (sujo). Baldas (irresponsável). Basqueiro ( bagunceiro). Bilhardeiro (intrujão). Broeiro (ignorante). Piço (inexperiente). Bufo (dedo duro). Cacafelho (infantil). Cafunge (larápio). Cheché ( gagá). Chico-esperto (malandro). Emplastro (pegajoso). Chunga ( brega). Covidiota (quem se porta mal em relação à covid).

Ah, não podemos esquecer de “genocida” (que em Portugal queria dizer “genocida” mesmo, mas estamos a pensar mudar para “imbrochável”).

OPINIÃO

pt-pt

2022-09-30T07:00:00.0000000Z

2022-09-30T07:00:00.0000000Z

http://quiosque.medialivre.pt/article/281981791467513

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