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País não tem condições para construir um novo aeroporto

O país não tem nem condições nem necessidade de construir um novo aeroporto de raiz.

L. MIGUEL HENRIQUE

Após várias horas de recolha de informação e estudo sobre o tema do novo aeroporto com o fito de elaborar o presente artigo e cumulativamente preparar o videocast semanal do Negócios “Advogado do Diabo – A Justiça e os números”, facilmente cheguei à conclusão quase cartesiana de que poucas conclusões sólidas e definitivas um cidadão interessado consegue apurar ao dia de hoje, tal é o manancial de estudos, pareceres e considerações existentes totalmente contraditórios sobre esta matéria.

Com efeito, é difícil separar a informação técnica fidedigna, saudável e independente daquela que é produzida de forma interesseira. A dialética e o contraditório são sempre partes importantes na tomada de decisão destes processos desde que partam de pressupostos legítimos e verdadeiros. O que não é bem o caso.

Desta forma e invertendo a ordem lógica desta crónica, gostaria desde já de partilhar as principais 10 conclusões a que consegui chegar: 1. Precisamos de um novo aeroporto; 2. Este não precisa de ser construído de raiz; 3. O país já perdeu imenso tempo; 4. Foram gastos dezenas de milhões de euros até agora com pouco ou nenhum aproveitamento prático; 5. Toda a economia, e não apenas o turismo, tem sofrido um elevado custo económico e estratégico com toda a indecisão dos sucessivos governos das últimas décadas; 6. O país não é rico; 7. Portugal está altamente endividado (até às próximas gerações e seguintes) e não precisa de mais despesa desnecessária; 8. A decisão que for tomada tem de respeitar a sustentabilidade financeira e ambiental de forma equilibrada; 9. A imagem do país não suporta muitos mais verões de filas de espera intermináveis; 10. Precisamos de ouvir vozes competentes, sérias e independentes.

Sendo público e notório que Portugal (em particular a Área Metropolitana de Lisboa) carece de uma nova infraestrutura aeroportuária, acredito piamente que o país não tem nem condições nem necessidade de construir um novo de raiz.

Criar mais um custo seja 7, 8 ou 10 mil milhões de euros para as próximas gerações pagarem é não só de uma total irresponsabilidade, como um desperdício de recursos que claramente não temos. Existem outras soluções técnicas possíveis, viáveis, sustentáveis e bem mais económicas para todos nós.

Assim e para já a única coisa que saiu do encontro de Montenegro com António Costa foi a necessidade de mais um estudo. Será esta “Comissão Técnica Independente” que, no prazo expectável de um ano, irá decidir sobre o novo local.

O meu único receio é que uma (má) decisão para o país já esteja tomada e que este novo estudo apenas sirva para servir de “álibi” e assim legitimar ou branquear decisões mal formatadas.

Vai longa a novela. Um enredo com cinco décadas e quase duas dezenas de putativas localizações. Contudo, aqui chegados e agora que os nossos governantes não se podem mais esconder politicamente do fardo da decisão decorrente da situação caótica que o aeroporto da Portela vive, haverá que nada conceder aos lóbis incorporados dos grandes grupos económicos, imobiliários e/ou financeiros.

Coluna semanal à sexta-feira

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2022-09-30T07:00:00.0000000Z

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