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Quando a propaganda bate na parede

CAMILO LOURENÇO Analista de economia camilolourenco@gmail.com

O Presidente da República entretém-se a anunciar viagens ao Hawai, a comentar de forma inconsequente o problema ético que envolve a ministra da Coesão e a criticar a decisão do BCE de acelerar a subida dos juros. Com isso vai distraindo o país, à semelhança do que faz o primeiro-ministro (v.g. mais um anúncio de TGV e aumentos salariais de 20% na legislatura), quando se devia ocupar de coisas muito graves. Exemplos? Na conferência do Eco, o governador do Banco de Portugal alertou para o risco de, em 2022, a economia estar a ser unicamente puxada pelo consumo privado. “Em 2022, o motor do crescimento voltou a ser o consumo privado e isso é uma preocupação quando pensamos e projetamos os próximos anos para Portugal.” Centeno acrescentou outro pormenor: em épocas anteriores, quando o país foi assolado por crises de pagamentos, isso sucedeu porque existiu “uma dinâmica do investimento mais frágil do que o consumo privado”.

Não me lembro de um diagnóstico tão grave da economia portuguesa nos últimos anos. Até porque é feito por um protagonista dos governos de António Costa. Governos que não se cansaram de propagandear uma revolução estrutural na economia portuguesa: colocar as exportações como motor principal do crescimento económico.

Deixemos de lado o facto de esta “revolução” ter começado com o programa de ajustamento ( bem expresso no facto de as exportações terem passado de 27% do PIB para 41%). Olhemos antes para outro pormenor: então se a dupla Costa/centeno fez uma revolução no capítulo do investimento/exportações, o que sucedeu para, repentinamente, o país ter voltado ao modelo do crescimento-puxado-pelo-consumo… que pode levar a nova crise de pagamentos?

OPINIÃO

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2022-09-30T07:00:00.0000000Z

2022-09-30T07:00:00.0000000Z

http://quiosque.medialivre.pt/article/281951726696441

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