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Guardadores de margens

SUSANA TORRÃO

Depois de décadas de ausência, os guarda-rios estão de regresso às margens dos rios e ribeiras do Norte e centro do país. Antes associados a ações de fiscalização, os guarda-rios do século XXI salvaguardam a qualidade ambiental das águas que vigiam.

Torto, Tinto, Ave, Leça, Tejo, Caima, Homem… São já vários os rios portugueses que contam com a vigilância de guarda-rios nas suas margens. Nos últimos dois anos, os projetos multiplicaram-se e são sobretudo as câmaras do Norte do país a apostar no regresso de uma profissão que parecia desaparecida. Ao contrário do que acontecia há 50 anos, quando a profissão estava muito associada à verificação de licenças de pesca e à autuação dos infratores – não é por acaso que é entre os pescadores que a memória dos antigos guarda-rios permanece mais fresca –, os novos guarda-rios têm sobretudo a missão de monitorizar a qualidade ambiental, identificar eventuais problemas e desenvolver ações de sensibilização da população. No Porto, a rede de rios e ribeiras da cidade totaliza 66 quilómetros, os quais são percorridos, desde o início de 2020, por uma equipa de três guarda-rios. O projeto surgiu no seguimento dos trabalhos de naturalização do rio Tinto, que possibilitaram a ampliação do Parque Oriental da Cidade do Porto, com a inclusão de mais três quilómetros de percurso pedonal ao longo das margens. “Era um dos grandes vazios ambientais que tínhamos. Na altura, estendemos o projeto da gestão dos restantes rios e ribeiras que integram a cidade à Águas e Energia do Porto. Quisemos criar uma equipa específica que visita estes espaços e vai monitorizando a sua qualidade, identificando as suas melhorias mas também os problemas que surgem”, explica Filipe Araújo, vice-presidente da Câmara do Porto e vereador do Ambiente. Todos os dias as equipas seguem um itinerário e na presença de alguma situação anormal, tentam identificar a origem do problema e acionam as equipas responsáveis para o resolver. “Por vezes, isso implica seguir o rio ou até a canalização ou o sistema de águas pluviais. Normalmente, a prevaricação passa por as pessoas enviarem para os sistemas de águas pluviais matérias indevidas, que depois vão parar a esses rios e ribeiras. São os guarda-rios que têm a função de fazer o caminho de volta, até conseguirem identificar quem está a prevaricar”, explica Filipe Araújo.

No Porto, como noutras cidades densamente construídas, a maioria das ribeiras corre em condutas. Nos últimos anos tem havido um esforço para renaturalizar e trazer de volta à superfície os diversos cursos de água. “Estamos a trabalhar num plano de valorização dos rios e ribeiras do Porto. O primeiro objetivo é termos os rios e ribeiras completamente despoluídos – daí tentarmos detetar comportamentos ilícitos que possam existir – e, onde isso for possível, queremos trazer estas ribeiras de volta à superfície e dar-lhes condições para ocupar o seu espaço de forma mais natural”, explica o responsável. O último exemplo foi a abertura do parque da Asprela, pelo qual passam duas ribeiras que foram naturalizadas.

Embora não tenham funções de fiscalização, a presença da equipa de guarda-rios acaba por atuar como um fator dissuasor. O objetivo é que, com o tempo, a própria população acabe por atuar também como um elemento de monitorização. “O rio Tinto era um rio escuro, de que não se via o fundo. Depois da nossa ação demorou pouco tempo até que se tornasse transparente. E desde então é que

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2022-09-30T07:00:00.0000000Z

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