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A tempestade perfeita

ARMANDO ESTEVES PEREIRA

Àmedida que o outono avança, a probabilidade de entrarmos em nova recessão económica aumenta. De fora os ventos são desfavoráveis, a guerra na Ucrânia e as sanções à Rússia mergulham a Europa na maior crise energética depois da Segunda Guerra Mundial. A maior economia da UE, a Alemanha, vai a caminho de perda de riqueza penalizada pela escassez de gás para alimentar a indústria. E a subida dos juros vai colocar lastro na atividade económica levando a uma travagem mais profunda.

Como sabemos de anteriores crises, sempre que a Alemanha se constipa, Portugal fica com febre, uma vez que a economia germânica é o destino mais importante das exportações da indústria portuguesa.

O arrefecimento económico vai ser transversal à Europa, o que significa que pode também ameaçar a nova galinha dos ovos de ouro de Portugal: o turismo. Nesse capítulo, a desvalorização da libra é outra má notícia, porque tira poder aquisitivo a um dos mercados emissores de turistas para Portugal ao longo de todo o ano.

Como disse a senhora Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, aos eurodeputados “é expectável que a situação piore antes de melhorar”.

A espiral de inflação na Europa está longe de estar dominada e até é provável que as medidas de apoio que os governos estão a promover agravem algumas bolhas inflacionistas. O BCE não desiste de domar a escalada de preços e não pára a subida de juros até a inflação voltar para os 2% desejados.

A nova reunião de outubro do BCE poderá aumentar novamente as taxas entre 0,50 e 0,75 pontos percentuais e novas subidas são esperadas até 2023.

O dinheiro mais caro trava os investimentos e torna mais difícil o acesso ao crédito à habitação por parte das famílias.

A subida das taxas da Euribor que já antecipam as futuras subidas do BCE complicam a vida das famílias que querem comprar casa. Com um grande fosso entre o rendimento disponível e o valor necessário para acompanhar a prestação do crédito à habitação, é natural que haja também um arrefecimento no mercado imobiliário e na construção de imóveis, acelerando ainda mais o caminho para a recessão.

A inflação, a subida de juros e a crise energética parecem conjugar-se numa tempestade perfeita que ameaça empobrecer a economia, os países e as famílias em 2023.

SEMANA

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2022-09-30T07:00:00.0000000Z

2022-09-30T07:00:00.0000000Z

http://quiosque.medialivre.pt/article/281651078985721

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