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Brasil nos extremos

CELSO FILIPE Diretor adjunto cfilipe@negocios.pt

Um país que tem de escolher como seu Presidente um candidato que se situa num dos extremos do espetro político tem um problema estrutural sério. É este o caso do Brasil, que vai a votos no domingo. Visto de fora, a opção entre Jair Bolsonaro e Lula da Silva parece enquadrar-se na categoria de “mal menor”.

Jair Bolsonaro já deu provas de se tratar de um Presidente limitado, com uma narrativa securitária já gasta e incapaz de projetar o Brasil para lá das suas fronteiras. É tolerado por algumas elites, sobretudo porque as deixa em sossego e não se intromete em questões económicas e usa a desinformação como arma, disseminando-a pelas redes sociais. Quanto a Lula da Silva, arrasta consigo um passado manchado pelo envolvimento em casos de corrupção e um Partido dos Trabalhadores (PT) que se sentou alarvemente a essa mesa. Apresenta-se como o defensor dos deserdados, mas não tranquiliza a cada vez mais frágil classe média.

É verdade que o Brasil é demasiado grande e plural para caber todo no saco de uma análise única. As necessidades dos habitantes de Roraima pouco têm a ver com as do estado do

Rio de Janeiro e as sentidas na

Amazónia são muito diferentes das de Minas Gerais.

Ainda assim, parece claro que este extremismo político plasmado nas eleições presidenciais é o reflexo de um país descompensado no que toca ao funcionamento do elevador social. E este ato eleitoral parece dar razão ao escritor e humorista Luís Fernando Veríssimo, que um dia disse: “No Brasil, o fundo do poço é apenas uma etapa.”

A democracia do Brasil tem sido desafiada por políticas cada vez mais polarizadas, a erosão da confiança na classe dominante e um Estado central fraco minado pelos interesses de geometria variável dos 24 partidos (sim, leu bem, 24!) com representação no Congresso.

As eleições gerais brasileiras de 2 de outubro, marcadas pela novidade de os militares irem fazer uma contagem paralela dos resultados, vão aprofundar esta clivagem. De resto, os protagonistas em confronto, Bolsonaro e Lula, são a evidência de que esta eleição não oferecerá nem caras nem ideias novas à democracia do país.

Esta eleição não traz nem caras nem ideias novas à democracia do país.

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2022-09-30T07:00:00.0000000Z

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