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É POSSÍVEL SER UM VEGANO FELIZ E SAUDÁVEL?

Há cada vez mais adeptos, mas a Ordem dos Nutricionistas prefere a dieta mediterrânica

MARTA MARTINS SILVA TEXTO

Amãe de Inês Pais já cozinhava pratos vegetarianos na adolescência da filha, numa altura em que o conceito dava ainda os primeiros passos em Portugal. Mas foi no fim de 2017, depois de ver o documentário ‘Cowspiracy’ [um trocadilho com a palavra ‘vaca’ e ‘conspiração’] que Inês decidiu diminuir o consumo de carne e laticínios “por contactar, pela primeira vez, com o impacto negativo que a indústria pecuária tem no nosso planeta”. Viria a excluir estes alimentos da sua alimentação, mas foi em 2018, quando estava a viver em Londres “e a experienciar comida vegana maravilhosa diariamente”, que tomou a decisão de adotar o veganismo, concretamente depois de ver a palestra “Best Speech You Will Ever Hear”, do ativista norte-americano Gary Yourofsky, no YouTube. A intervenção de que fala Inês, proferida em 2010, tem quase cinco milhões de visualizações. Já o documentário que numa primeira fase a despertou para o tema estreou em Portugal em 2015 e já podia ser visto antes na Internet. Desde que viu a luz do dia foram vários os relatos pelo mundo de pessoas que viram o filme e decidiram mudar a alimentação para salvar o planeta, foi o caso do apresentador João Manzarra.

Primeiro, vamos a explicações: Um ovolactovegetariano não consome peixe nem carne, mas come leite e seus derivados (queijo, manteiga, iogurtes) e ovos. Por outro lado, do cardápio de um vegano estão arredados, além do peixe, da carne, do leite e seus derivados, também os ovos e tudo o que contenha vestígios de animais – a preocupação pode estender-se à roupa e aos produtos de higiene e limpeza.

Vegano feliz?

Inês Pais, de 29 anos, publicou agora o livro ‘Vegan Feliz’ (ed. Lua de Papel), ela que no início da vida adulta nunca ligou muito à cozinha e optou por se formar em Psicologia. Chegou a trabalhar dois anos na área até se despedir e começar a partilhar receitas na sua página do Instagram e, no seguimento do sucesso das publicações, a ser solicitada para ‘workshops’ de culinária, numa altura em que ainda não era vegana. Isso só veio a acontecer já depois de frequentar a escola francesa Le Cordon Bleu. “A felicidade não se resume às nossas escolhas alimentares, mas sou muito mais feliz desde que tomei a decisão de me tornar vegana. Até porque, para além de vegana, levo uma alimentação que é também saudável e nutritiva. Por trás desta minha decisão estão razões ambientais, de saúde e éticas, no sentido em que não pactuo com a exploração animal”, justifica.

Já a bastonária da Ordem dos Nutricionistas elege a dieta mediterrânica como a alimentação ideal para os portugueses. “É um padrão alimentar que é salutogénico [valoriza os fatores que interferem positivamente na saúde], porque está culturalmente adaptado à vida dos portugueses e de todos os povos que circundam a bacia do Mediterrâneo. Claramente, a dieta mediterrânica é promotora da saúde além de ser economicamente e ambientalmente sustentável. Digo isto porque as pessoas que dizem que vão alterar a sua forma de comer para uma ali

“Por trás da minha decisão estão razões ambientais, de saúde e éticas, não pactuo com a exploração animal

INÊS PAIS, AUTORA DE ‘VEGAN FELIZ’

vegetariana ou vegana muitas das vezes apontam questões ambientais ou questões relacionadas com a proteção dos direitos dos animais ou então preocupações de saúde para justificar a mudança de alimentação”, considera. “Quanto às preocupações de saúde, a dieta mediterrânica merece aqui preferência porque há uma evidência científica muito forte que demonstra que é um padrão alimentar que é saudável, porque se eu tiver um padrão alimentar vegetariano ou vegano posso vir a ter – se este não for bem balanceado durante o dia – carências de alimentos, nomeadamente vitaminas, minerais, como o ferro, o cálcio, a B12 – que só está em produtos de origem animal”, partilha a bastonária, aconselhando quem pretende fazer uma dieta vegana a consultar, por isso, um nutricionista para saber como adaptá-la e como prevenir carências.

Mas Alexandra Bento vai mais longe: “A dieta mediterrânica também responde a questões de sustentabilidade porque escolhe produtos alimentares que sejam de proximidade, de origem local, da época, e aqui claramente rebate aquilo que é o conceito prévio do vegetarianismo, que aponta questões ambientais, mas muitas das vezes acaba por não atender a esta particularidade dos produtos de proximidade contribuindo para uma pegada ecológica muito elevada”, continua a nutricionista, sem se esquivar à questão da proteção dos animais. “Caberá a cada um decidir acerca desse capítulo. Eu diria que é uma preocupação que todos temos de ter presente, proteger o bem-estar e os direitos dos animais, o que não quer dizer não os utilizar para consumo humano, porque eles podem ser utilizados para consumo humano se forem acauteladas todas as questões relacionadas com a vida do animal em condições que sejam dignas dos seus direitos”, acrescenta a bastonária, lamentando “o afastamento progressivo dos portugueses em relação à dieta mediterrânica”, património

HISTÓRIAS

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2021-10-17T07:00:00.0000000Z

2021-10-17T07:00:00.0000000Z

http://quiosque.medialivre.pt/article/284086324754578

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