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À nossa

Oeurodeputado Paulo Rangel está na berlinda por razões que não interessam nem ao Menino Jesus: foi filmado, parece que há uns anos, a cambalear bêbado que nem um cacho numa rua de Bruxelas. Alguém o reconheceu e, além de o filmar, insultou-o com os epítetos habituais: “Chulo, andas a roubar o povo”, etc. E agora o vídeo tornou-se viral, talvez por alguém ter confundido as eleições autárquicas com as do parlamento europeu.

A minha simpatia por Paulo Rangel é pouca, desde logo porque menosprezo os tipos que perdem peso com aquelas dietas malucas. Rangel era gordinho e agora é magrinho: tá mal. Acho aliás que foi isso que o fez aguentar menos o álcool. Também não gosto das posições políticas dele. Mas um homem já não pode, fora do trabalho, apanhar uma bezana? O que queriam que o homem fizesse quando vê amigos, rezasse o terço? O puritanismo nunca trouxe nada de bom.

E devo confessar que a imagem dele quase aos tombos, e mesmo assim indo a pé para casa (em vez de, à portuguesa, se pôr ao volante), só o fez subir na minha consideração.

Estes cercos ao ‘gajo conhecido’ não são novidade. Há anos foi a vez de Chico Buarque ser assediado no Rio por dois betos a chamá-lo comunista (bem mais rigoroso seria chamar-lhe génio). Nos Estados Unidos, um grupo cercou Mitt Romney, homem de direita mas às direitas, por não alinhar na farsa trumpista. Cá, há já uns tempos, foi a vez de Mamadou Ba aturar uns tipos armados com telemóvel, mas ameaçando algo mais. (Saíram-se mal: deviam ter trazido mais amigalhaços, que Mamadou pode ser muita coisa, mas fácil de intimidar não é.)

Geralmente, estas espertezas são feitas em nome do povo. É um equívoco típico de um tempo em que a fama é moeda de troca: “Sou anónimo e gosto de chatear, logo sou povo.” Mas não é assim que funciona. Podemos não gostar dos representantes do povo, sobretudo daqueles em quem não votámos. Mas tem algum jeito acharmos que, por não termos sido eleitos, nós é que representamos o povo? Malta, organizem-se. Não é assim que funciona.

Guardo boa memória de um almoço com Pedro Passos Coelho há mais de 20 anos, organizado pelo DNA do Pedro Rolo Duarte. Nunca pensei dizer isto, mas pronto, um dia não são dias: Rangel, camarada, vamos beber um copo qualquer dia?n

O QUE QUERIAM QUE O HOMEM FIZESSE QUANDO VÊ AMIGOS, REZASSE O TERÇO? O PURITANISMO NUNCA TROUXE NADA DE BOM

NUNCA PENSEI DIZER ISTO, MAS PRONTO, UM DIA NÃO SÃO DIAS: RANGEL, CAMARADA, VAMOS BEBER UM COPO QUALQUER DIA?

POLÍTICA

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2021-07-23T07:00:00.0000000Z

2021-07-23T07:00:00.0000000Z

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