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OBITUÁRIO Pablo Milanés (1943-2022)

Um dos maiores músicos cubanos da sua geração, foi preso político do regime e um dos maiores expoentes do movimento da Nueva Trova. Tinha 79 anos

Apartir de ritmos tradicionais cubanos, como a Trova e o Son, ajudou a construir um novo género musical – a Nueva Trova Cubana, movimento a que ficou para sempre associado –, através do qual se aproximou mais da música popular e romântica internacional, mas também de outras tradições regionais, como o blues e, principalmente, a música popular brasileira. Será este, além da força das suas mais célebres canções, como Yolanda ou Yo No Te Pido, o principal legado de Pablo Milanés, que morreu na passada terça-feira, dia 22, em Madrid, onde vivia, depois de vários dias de internamento devido a um cancro hematológico.

Pablo Milanés Arias nasceu a 24 de fevereiro de 1943 na cidade de Bayamo, a 130 km de Santiago de Cuba, onde despertou o seu interesse pela música, tendo ganho um concurso de rádio com apenas 6 anos. Em 1950, a família mudou-se para a capital, onde Pablito, como era conhecido na altura, foi estudar para o Conservatório Municipal de Havana, na altura a mais prestigiada escola de música do país. Foi fora da escola, no entanto, nas tertúlias de rua e dos cafés que frequentava, que encontrou a maior inspiração musical, apresentando a sua primeira performance aos 13 anos, no programa de televisão Estrelas Nascentes, e tornando-se, a partir dos 15, um inveterado boémio dos círculos musicais de Havana.

Nos anos 60, é exposto a um leque maior de influências – além da música tradicional e do filin cubanos, o blues americano, a música brasileira ou a clássica – participando em vários grupos vocais, entre os quais se destaca o Cuarteto del Rey. No entanto, em 1965, a sua carreira é interrompida ao ser enviado para um campo de trabalhos forçados pelo regime de Fidel Castro, e, depois de ter escapado para denunciar as suas injustiças, novamente aprisionado na infame La Cabaña, até ao fecho da prisão por pressões internacionais. Convicto socialista, desiludiu-se, mais tarde, com o rumo do país, apesar de nunca ter deixado de se manter fiel à Revolução.

Saído da prisão, junta-se, em 1969, ao Grupo de Experimentación Sonora, de

COLABOROU COM GAL COSTA E IVAN LINS E GRAVOU UMA VERSÃO DE FEITICEIRA COM LUÍS REPRESAS

onde sairiam outros grandes nomes da Nueva Trova Cubana, como Silvio Rodríguez e Noel Nicola. O seu primeiro álbum, Versos Sencillos,é

gravado em 1975, mas só nos anos 80 surge o seu mais célebre período, com os discos Yo Me Quedo (1982), El Guerrero (1983) e Comienzo y Final de una Verde Mañana (1984), e culminando com Querido Pablo (1985), gravado com alguns dos seus maiores amigos na música: Chico Buarque, Mercedes Sosa ou Luis Eduardo Aute. Continuou a cantar e a gravar até ao fim da carreira, lançando mais de 50 álbuns e contribuindo, tanto no resgate de velhos compositores esquecidos como no incentivo da nova arte através de uma fundação, para o desenvolvimento da cultura cubana. Sempre com uma forte ligação à Lusofonia, colaborou ainda com Milton Nascimento, Gal Costa e Ivan Lins, bem como com Luís Represas, com quem gravou uma versão de Feiticeira.

Vivendo os últimos anos em Madrid, nunca deixou de se considerar, “essencialmente, um revolucionário”. ● politicamente à esquerda, e por adaptarem trabalhos de outros autores, destacam-se A Crónica de Anna Magdalena Bach (1968), sobre a segunda mulher de Bach, Relações de Classe (1984), a partir de Kafka, e Sicília! (1999), com base em escritos antifascistas, cuja produção foi objeto de um documentário de Pedro Costa. ●

A Semana

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2022-11-24T08:00:00.0000000Z

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